Despojada de mim
Procuro-me num labirinto tortuoso sem fim,
O tempo corre… apressa-me e cansa-me
As forças esvaem-se numa torrente frenética
E não encontro forma de a estancar
Definho eu sei,
Ofereci a minha existência a um fantasma
Que, fria e habilmente, a soube aniquilar
Aliciou-me para o limbo sem me rogar
E evaporou-se na penumbra d´um luar
Na cobardia silenciosa rudimentar
Alguém que nunca tive audácia de magoar.
Agora, em mim, flui desmedida dor…
E avisto-me, remota ténue como uma aparição
Débil, diluída e só além na escuridão
Incorpórea na sombra medonha de ninguém
Numa noite fria, sem estrelas nem luar
Sou um mero espectro… vago e disforme
Silhueta de árvore retorcida irreal
Dizimada, dissecada e prestes a tombar
Cruelmente privada da luz de viver
Longe do fulgor do sol que me furtaram
Sucumbi, eu sei… lutei ao lado do inimigo
Agora…
Frágil, moribunda vencida pelas possantes emoções
Agastada pela intensa raiva de mim mesma
Lamento num suspiro largo e languido:
-Porque me deixei aniquilar…?
-Como me posso perdoar?
*** Camila Carreira ***
Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas...
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