Poema do beijo febril a alastrar

Deslizei a mão no teu rosto 
Senti apurado gosto
Numa ternura carnal 
Instintiva de animal 
Que age sem dar sinal 
Sem reflexão ou moral 

Meus olhos ávidos de afetos
Deliciam-se em teus trajetos
E que de tanto te procurarem
Mergulham nos teus, abertos
Vivos como mares... desertos 
Vagamos sedentos incertos 
Sôfregos de beijos libertos

E agora de corpos tão perto 
Sabes-me capaz de te amar
Sabes o quanto é doloroso
Obstar-me de te desejar 
Ardente desejo irascível 
É rompante febril a alastrar
Que me queima até te beijar 

**** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas 


Bernardo Soares

Poema da paixão renegada

camila carreira, poetisa portuguesa, poesia negra, poemas de dorEsta paixão renegada 
Que já mal é avistada
Em fuga e assustada
Não deixou rasto nem nada

Efémera foi arrastada
Pelo rumo da vida fadada
à saudade fiquei condenada
Sem nunca deixar de te amar

Desfiz-me pra nos resgatar 
Quis segurar-te em mim
Entrelaçados como jasmim
Embriagados em Aromas sem fim

Enrodilhado teu tudo no meu
Enleados, o meu tudo seria teu
Novelo de fios que o amor teceu
Unidos rumo à felicidade
Minha rota p´ra eternidade
Ai se tu fosses verdade!

*** Camila Carreira *** 



Momentos de cultura e curiosidades poéticas 



Ricardo Reis. Acima da verdade estão os deuses.

Poema de amor e rimas, ama sem ter quem amar

Alma de quem ama mas já não quer amar 

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, poesia portuguesa
A Luz trespassa o fusco vago do mar
Cintila no espelho espumado, a ofegar
Ondeando teimando em vir sem ficar
Como quem ama, sem ter quem amar
                            *
Cores que sombreiam a noite eminente
Anunciada na lua pálida alva luzente  
E dos tons vivos o crepúsculo fica ausente
Como coração vazado, de beijos carente
                           * 
Desanimo na grandeza fugaz do mundo
Pujante, imensurável como o doer profundo
Prefiro olhar alheia como quem não quer ver
Porque vivo bassa como quem não quer viver
                        *
E as ondas eriçam-se frias, iradas por mim
Infinitas incessantes como a fúria sem fim
Desespero por paz num refúgio de ilusão
Onde finjo que sim... mas em tudo é não
                       *
Porque dessas rochas polidas de tanto mar
Escorrem gotas de sal do meu solto chorar
E rugem ondas arrancadas da alma a gritar
Alma de quem ama mas já nem quer amar

**** Camila Carreira ***



Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Alberto Caeiro
A espantosa realidade das coisas

Poema do amor escudado e frio

O sol fita-me sem verdade
De olhar evidente que queima
camila carreira, poesia e quadras de amor, versos rimas namorar
Alto indiferente sem piedade
Como castigo vil em que teima

E quando o sol me não fitar
Recolhido no remoto crepúsculo
Seguirá mesmo assim a queimar
Este meu ser que lhe é minúsculo

Porque tinhas que ser assim
Sol impenetrável e castigador
Fugido no horizonte sem mim
Escudado de frio ao meu amor

Nessa névoa que te encobre
Onde jamais te encontrarei
Nessa tua imponência nobre
Intimidas-me, é tudo que sei

*** Camila Carreira  ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
Ah, como o sono é a verdade, e a única

Poema da paixão desditosa

camila carreira, poesia de amor,versos para namorarDesculpa por amar-te assim
Levitando vaga nesta incerteza
Tudo porque se apossou de mim
Inevitável minha intensa natureza

Jamais planeei eu sentir
Esta dor só e impiedosa
Que faz em mim sobrevir
Pertenta paixão desditosa

Conseguirei eu esquecer
Teu olhar que me apaixona?
Que insondável me faz tremer
E que doce… me emociona

Conseguirei eu esquecer
O teu respirar que me ansiava
O teu beijo que me fazia viver
E teu abraço que me salvava

**** Camila Carreira ****

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
Dorme enquanto eu velo...

Poema Suspensa num oásis de eternidade

camila carreira, poemas romanticos, quadras e versos de amor,Suspensa em teu oásis de eternidade
Foste tu minha miragem visionária
No teu deserto arenoso vi felicidade
Desfez-se, era areia movediça e precária

Sinto impotência perante tuas altas muralhas
Sofro nas ausências e silêncios que espalhas
É duro amar-te oculto nesses muros enormes,
Grito que te amo e só escutas ecos disformes

Inútil escalada este desejo de te alcançar
Porque te refugias nessa muralha, teu altar
Recolho-me exausta querendo tanto desistir
Drenar este amor, mas sem conseguir

*** Camila Carreira *** 

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
I - Andei léguas de sombra

Poema fragmentado

Fragmentada

poesia portuguesa, fernando pessoa, poemas de amor e rosasEsperei infindas horas por ti mas parti
Esperei um ínfimo de ti e tudo meu perdi
Despojada, desisti...
Mas algo meu se dividiu e ficou
Soltou-se... Insubordinou-se e teimou
Ali persiste, insiste e não desiste
Vagueia alhures triste, crendo
Fragmento que tento em vão reaver
Esse pedaço meu extraviado e obstinado
Resvaladiço como uma sombra sem dono
Despeja-me num vazio sem fim
Não me permite serenar amar
Preciso dessa porção de mim
Que esperançada, continua a esperar
Por ti, que sei que não vais voltar…
Preciso-me inteira, para me poder guiar
Para me conseguir sanar
Ser de novo una
Unânime nos trilhos que pisar

**** CAMILA CARREIRA***

Momentos de cultura... 

Poema do teu olhar

camila carreira, blog de poesia, versos curtos,O céu é enigma provocador
Prende olhares de devaneador
Cismando querem-no decifrar
E quando te quero pensar
Sozinha em qualquer lugar
De onde o céu se pode avistar
Procuro nele a magia do teu olhar
No enigma do céu peculiar
Era fosco, pálido e vago
Frustrou-me o intento
E naquele momento
Só a ti queria fitar
Fundir-me na magia do teu olhar
Intenso mélico de ofuscar
Porque a paz do teu olhar
Faz-me ser eu e amar
A luz do teu olhar
Ousa um segredo profundo
A força do teu olhar
Supera o céu... e cobre o mundo 

***CAMILA CARREIRA***

Momentos de cultura... 

Fragmentação do eu - Fernando Pessoa

Nietzsche e Pessoa juntos num livro só

Poema das vagas que moves em mim

camila carreira, versos para namorada, poemas imagens amorAmava respirar-te 
Encher a minha alma de ti
Reviver como foi em ti que renasci
Amava que sentisses as vagas que moves em mim
Anseios que se agitam em frenesim
Sinto o corpo e a alma a estremecer
Nas ondas da saudade de te ter
Sacia-as, só tu o podes fazer
Esta sede dos teus beijos, sem fim
Esta ânsia dos teus braços à minha roda
Este desejo das tuas mãos em mim toda
Esta saudade da tua voz
Saudade de nós
... Sós

***** CAMILA CARREIRA *****

Momentos de cultura... 

Todos os poemas de Alberto Caeiro num livro só


"Obra Completa de Alberto Caeiro" é o novo volume da "Coleção Pessoa" da editora Tinta-da-China. Para além de todos os livros de poesia, a edição inclui vários textos escritos por Pessoa sobre Caeiro.

Poema de lamúria do nosso ido amor


Esqueci-me de avivar tantas memórias
Mas desenho teu rosto na perfeição
Esboço-o em polidas saudades inglórias
Nos silêncios onde só me grita a solidão

Partiste no fim do derradeiro beijo salgado

Sagrado pela última lágrima que se verteu
Prostrei-me chorando em pranto cansado
Rios de lágrimas que nem o tempo sorveu.

Sou agora personagem de um tempo…

D´uma era apagada e que já passou
Serva da escrita semeando ao vento
Juras de amor que alguém olvidou

E em noites vis adormeço a chorar

Redigindo o diário da minha saudade.
Do tempo em que éramos, tu e eu, a verdade
Perene imponente, que nada parecia abalar

Caí finda em melancolias vãs e infinitas,

Sovada por violentas memórias e desditas
Desenho noites inteiras, traços negros de dor
Rabisco poemas, lamurias, do nosso ido amor

****CAMILA CARREIRA***


Momentos de cultura...

Poesia e prosa de Álvaro de Campos reunidos num só volume pela primeira vez

Amor como flor de ciclame

Meu amor minha flor 

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Meu amor é aguerrido, florindo garrido
Pulsante cíclame que me vibra, colorido
Brota e flutua como grácil borboleta
Gritante veste de branco, rosa ou violeta

Minha flor de cíclame traçada perfeita
Viva e cativa no meu quimérico castelo
Altiva no peitoril da minha janela eleita
Fito-a vou e vagueio nos sonhos que anelo

flor imponente que consta orgulhosa
Como princesa que se alteia ao plebeu
No seu reto e altivo florir sempre airosa
Admiro-a com vaidade como reflexo meu

**** CAMILA CARREIRA **** 


Momentos de cultura .... 


Como Fernando Pessoa pode mudar a sua vida. 

Poema entre a dor e o amor

camila carreira, blogue de poesia portuguesa, versos e frases de amor,
ENTRE DOR E AMOR, NÓS... 
Ai quanto amor dissipamos em fadigas e cobardias
E o quanto nos amamos só em minhas nostalgias
O cosmos quis-nos assim amando desentendidos  
E vejo no nosso amor, quantos sonhos meus, perdidos

Quis-te sim ardente, dias e noites, com devoção

Quis-te sim em ondas vãs de tormentosa paixão
Quis-te tanto… mas tanto que desisti de pensar
Que me esqueci quem eu apenas para te agradar

Quanto de mim vi em ti, entre dor e amor, a pairar

Desejei, mesmo proibida, sentir teu beijo e abraço
Sentir-me tua, subjugada, colhida no teu regaço
Vendi a alma ao diabo tão só para te poder amar 

**** CAMILA CARREIRA **** 


Momentos de cultura... 

Fernando Pessoa. O amor, quando se revela,

O amor, quando se revela
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Poema só o viver já me castiga

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Não quero mais viver aqui
Onde só o viver já me castiga
Incontáveis golpes que recebi
Dor de que ninguém me abriga

Nunca fui eu que pedi
Este viver nulo e cruel
Com ele somente sofri
Dele apenas traguei o fel

Preciso recusar este viver
Esta previsível e lenta agonia
E cada sol que vir nascer
Será sempre e só, só mais um dia

E em cada dia que aqui eu for
Vou saber que é sempre triste
Viver esperando só mais dor
Sabendo que nada mais existe

Augúrios que pairam no ar
Sinto-os vindo como vento
Como chuva fria a fustigar
E eu desabrigada ao relento

Hoje perguntei ao vil destino
Porque me condenou ele a mim
Já consternada só procrastino
Existir neste calvário sem fim

Fitei o horizonte com desdém
Censurando infinita a crueldade
Quis existir paralela mais além
Fantasiando brisas da bondade

*** Camila Carreira ****

Momentos de Cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
A morte é a curva da estrada,

Poema eu vivi morrendo por ti ( Reflexão comparada sobre Kierkegaard e Pessoa)

camila carreira, poemas de dor, poetisa portuguesa, versos de amorNas paredes do teu sonho infernal
Desenhei os meus caminhos
Julgando eu que serias leal
Mas eram frágeis teus pergaminhos
tudo fizeste para me sabotar
Lamento tais intentos mesquinhos

Com fragmentos de choro no olhar...
Que fita toldado o distante luar
Da noite funda onde fui findar
Com sonhos meus abortados
Esboçados em traiçoeiros torvelinhos

Solto brados e prantos desesperados
Como passarinhos caídos dos ninhos
Adivinhando o quanto estão condenados
E como eles também eu compreendo
Dolorosamente tarde o percebi
Eu apenas vivi morrendo
E morri vivendo por ti

**** CAMILA CARREIRA ***




Momentos de cultura... 

Reflexão comparada sobre Kierkegaard e Pessoa

Poema da paixão nua - Pessoa, Chuva Oblíqua


camila carreira, poesia portuguesa, poemas de amor e cinzas, versos namorarMeu sentir é transparente
Não mente
Nu de véus ausente
Inflama o âmago e a matéria
Traslada-me translúcida veemente
Multiplica-se como bactéria
Paixão que alastra impunemente,
Transborda farta como enchente
Vaza sentires até à carne, plena.
Apossa-se e serena
Não é doçura, não é carência,
Queima, é sentida ardência.
Questão de sobrevivência
Urgência… inclemência
Exige abraços fortes,
Palavras bruscas e cruas,
Feridas abruptas e cortes,
Pactos de vida e de mortes
Talvez nem a suportes
Mas paixão é assim...
Vertigem e desnortes

Frenesim do sol até à lua 
Êxtase em que me sinto tua,
Enquanto tu me feres de paixão... nua

****CAMILA CARREIRA  ****

Momento de Cultura... 


Fernando Pessoa

I - Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
CHUVA OBLÍQUA

Poema apaixonada sem moderação

Pulsar de paixão, dói demais 


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Porque vim eu desabar em teus braços
Tragar seiva bruta e amarga da paixão
Porque reitero eu estes erros crassos
Ir, apaixonada pelo amor sem moderação

E dói depois imenso, em horas sós e tão duras
Onde só o vazio nos aconchega das desilusões
Onde vaporizo memórias nas que ainda perduras
Salvando meu coração vítima de convulsas paixões

Deixa que a paixão seja teu ermo altar de louvor
Deixa que seja ela teu culto insano mas pacato
Deixa-a ser mera antecâmara do vindouro amor
Vive-a feroz e fervente mas sempre com recato

Alimenta-a só em palavras sonhos e poesias
Vive-a de olhos cerrados apenas em fantasias
Eleva-te em desejos ignomínias e heresias
Mas jamais confesses que tanto querias

O coração já exausto do degelo e do ardor
Trapaceado em tuas escolhas e pulsões frugais
Recolhe-se tolhe-se e deixará de ser-te servidor
Entenderá que pulsar paixões dói demais

**** Camila Carreira**** 


Momentos de cultura e curiosidades poéticas.... 


Álvaro de Campos
AH, UM SONETO...

Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passear a passear...

Poema... Amo-te penumbra luzente do meu luar

camila carreira, quadras de amor, versos curtos de amorAmo-te imanada na força do teu olhar
Amo-te sorriso preso dourado e solar
Amo-te penumbra luzente do meu luar
És tanto... tudo que eu gosto de amar

Amo-te riso terno tímido encoberto
Amo-te sorriso alvo raro e incerto
Amo-te alma livre que eu liberto
És tu que eu quero ter por perto

Amo-te toque ardente de mão acetinada
Amo-te aroma flamejante de pele ansiada
Amo-te beijo doce fresco de fruta molhada
Sonho-te viva, acordada, até de madrugada

Amor lançado amplo em vão intento 
Erra vadio sem porto navio cansado
Na imensidão desbota eu me apoquento
Temo não te encontrar... meu ser amado

*** Camila Carreira ***

Momentos de Cultura... 

A magia do 8 na vida de Fernando Pessoa

Poema sedenta dos teus beijos - Fernando Pessoa - Sê plural como o universo!

O universo onde os teus beijos são a minha constelação 

camila carreira, poesia portuguesa, contemporâneaSinto seiva humedecendo os meus lábios
Doce meiga aguando sedenta do teu beijo
Escuto cada um de teus dizeres sábios
Apaixono-me és tanto... tudo que almejo

E entre cada palavra tua nascem meus desejos
Que te beijam e calam em ímpetos violentos
Suplico que sejas só meu sem pudor nem pejos
Ardem em mim desvarios danados ciumentos

No teu olhar fixo-me voejo em enigmas fascinantes
Porque amar não se pensa nem carece de explanação
Amar é a pura alegoria que doura todos os instantes
É universo onde teus beijos são minha constelação

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura... 

Fernando Pessoa

Poema de amor Suplico por ti - SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN – Álvaro de Campos

Quando não me estás a amar
Espero por ti...
camila carreira, poemas de cinzas, versos curtos amor, romanticosEstirada… agastada
Pela saudade devorada
Pelos sinais de ti deliciada
Pela tua lembrança projectada
Como num filme a 3D
Sonho-te em espaços
Tanto quanto me apeteces
E tu apareces
Visitas-me minuto a minuto
segundo a segundo
Invades-me, sinto-te
Falas-me e sorris-me
Sussurras todos os pecados
e pairamos desnudados
...a solidão desvanece
Mas nada é o que parece
És apenas minha prece
Porque a saudade cresce…
Porque não estás aqui
Suplico por ti
Vem acalora-me
Na quentura do teu olhar
Abrasa-me
Na ardência, do teu respirar
Amorna-me
Na tepidez do teu abraçar
Repele a frieza áspera do ar,
Porque há chuva e frio na rua
E tempestades ecoam ao luar
Sinto o meu mundo gelar
Quando não me estás a amar

 *** Camila Carreira ***


Momentos de cultura... 

A admiração e até a identificação que Fernando Pessoa tinha pelo autor norte-americano Walt Whitman e pela sua obra influenciaram a criação de alguns heterónimos criados pelo poeta, tais como Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
"O próprio Fernando Pessoa definiu o seu heterónimo Álvaro de Campos como um Walt Whitman com um poeta grego lá dentro"

Poema de procura do amor - Bernardo Soares - DIÁRIO LÚCIDO

versos de amor, poesia romantica, poesia portuguesa, frases de amarDIAS DE SOLIDÃO 

Tem dias assim…
A solidão senta-se altiva dentro de mim
Intransigente…
Lentamente
Intimida-me naquele ar assente
De quem veio para ficar.
Quase mansa e amiga
Uma solidão vasta e ostensiva
Como a imensidão do mar
Onde tudo parece longe e só
onde nada há para se avistar.
E o cansaço veleja a ruminar
Em ondas que não querem parar
Uma solidão que já nem angustia
Porque esse mar amplo e vazio
apega-se e norteia o pensamento
Guia-se pelas estrelas ao luar
Solto-o, incerto vadio e lento
Fecho os olhos deixo-o a pairar
Sorrio...
Adivinhando quem ele vai procurar
Para me sossegar.
Procura quem eu amar...
Um dia vai-te encontrar

*** Camila Carreira ***

Momentos de cultura...

Fernando Pessoa

Minha mulher, a solidão,

Poema de amor e saudade sem fim - Bernardo Soares A história negas as coisas certas.

Dor de saudade 

Não tinhas o direito de ser assim 
Ser tanto na minha vida…
Ser tudo para mim.
De iluminar o meu universo
Antes tão tenebroso
De ter contigo, esse sorriso
Fácil e luminoso
Esse olhar que me fala,
Intenso e misterioso
Esses lábios que extasiam,
Perfeitos e pecaminosos
Esse encanto magnético
Pulsante e imperioso
Essas mãos eléctricas
De toque tão poderoso
Não é justo… é doloroso.
Se era para ser assim,
Para seres tudo e tanto para mim
Tinhas que estar sempre, sempre…
Bem junto de mim.
E sanar esta dor, esta saudade sem fim

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura... 

Bernardo Soares
A história negas as coisas certas.

Poema de liberdade e motivação

Alma minha, cativa

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Voa, voa… esvoaça
Liberta-te e vai com graça
Não te enleies na desgraça
Voa voa… vai e enfurece
Solta-te leve e engrandece
O tempo não se compadece
Voa voa… levezinha
Foge da inércia daninha
Ostenta a força que é minha
Voa… vai apressada
Solta-te da corrente apertada
Não te prendas em mais nada
Voa voa… mais além
Não te detenhas por ninguém
os ingratos não agradecem
Voa voa… já segura
O teu esvoaçar perdura
Com ousadia e bravura
Voa voa … alma triste
Que longe, a alegria existe
Tu sabes, já a sentiste
Voa voa… alma minha
Agora não estás sozinha
Levas nas asas o meu alento
Esperança de renascimento
Não te deixes quebrantar
Confio no teu sôfrego voar
Desdenha o que te protrai
Esquece quem te trai
Quem te fere e extenua
Bate as asas e continua…
Voa … estamos tão perto
Não temas mais o incerto
Nem a vastidão do deserto
Porque a vida é pequenina
E o futuro sempre um enigma
Eternamente em aberto
Não esperes pois plo certo

*** Camila Carreira ***


Momentos de cultura... 


Fernando Pessoa
1. Com a alma atormentada pela impotência do ódio que nos nascera...

Poema de saudade de amar

camila carreira, rosas e cinzas, amor e paixão versos,Saudade de amar   

Olhei fundo no teu olhar
E perdi-me no teu mistério
Errante, pretendi encontrar
Aconchego no teu império

Inspirei ávida o teu respirar
Invadiste-me, fiquei suspensa
O tempo deixou de passar
E a vida ficou mais intensa

Há momentos de despedida
Momentos de dor desmedida
Quando temos que partir
Se apenas almejamos ficar.
Urge sentir refúgio…ou guarida
Num amor para toda a vida
Que nos acolha, para sossegar.

*** Camila Carreira ***

Momentos de cultura... 

Álvaro de Campos
Com as malas feitas e tudo a bordo

Poema do sorriso que me beija

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Empresta-me o sorriso que baila no teu olhar
Pra que veja o negro do mundo cor de mar 
Cristalino azul, verde dançante e sublime
Deixa que teu sorriso meu mundo ilumine

Deixa-me embalar nas ondas do teu sorriso
Navegando para longe da minha melancolia
Pois só nos teus cabelos de seda eu aliso
As ondas crispadas da áspera nostalgia 

É só perto de ti que o Universo se conjuga
Perto de ti é que o viver obstinado se tolera
És força vital que me detona mas subjuga
Sopro de luz e vida que de mim se apodera

Oh quem me dera ter-te luz até à eternidade
Fitar pra sempre o teu alvo sorrir e levitar
Num vendaval possante de amor e felicidade
numa corrente de luz emanada do teu beijar

*** Camila Carreira ***

Momentos de cultura... 


Fernando Pessoa
Dá-me um sorriso a brincar,

Poesía que domina a alma do poeta - Fernando Pessoa - Lenta e quieta a sombra vasta

camila carreira, blog de poesia de amor, rosas e cinzas, poetisa portuguesaPoema devasso invades-me a alma plo regaço
Capturas meu espírito já débil de cansaço
E soltas-te em palavras saciando o meu espaço
Renascendo em melodias lavradas em compasso

É vão resistir aos sentidos que em mim despertas
Pois é nas almas tristes, secretamente flageladas
Que as palavras irrompem, como feridas abertas
E soltam emoções, em torrentes desgovernadas
Como nessas noites negras de chuvas, desnaturadas
Alvoroços da alma desprendidos em enxurradas

Crispo-me quero encarcerar os meus demónios
Que líquidos fluem sem nada os poder conter
Alastram-se no labirinto dos meus neurónios
Sinto-os cáusticos dentro de mim a corroer

Poema é logro seja ele doce ou amargurado
É mero cicerone amplificador da minha dor
Instrumento e servo de demónio dominador
Que me expõe e consome, maldito esconjurado

Habitam-me espectros cravados e dominantes
Que gelam o sol mesmo em universos distantes
Rendida escrevo-os exibindo a ousadia que me resta
Espreito escapo e faço da poesia a minha breve festa

**** Camila Carreira ****

Momentos de cultura... 


Fernando Pessoa
Lenta e quieta a sombra vasta

O sádico - Poema Chora sem rompantes, poemas de dor

poemas romanticos, versos curtos de dor, camila carreiraChora sempre sem rompantes
Choros contínuos e incessantes
Em luas cheias ou minguantes
Nunca chores apenas por instantes
Já que tuas dores são constantes

Morrer por dentro 
é uma dor lancinante 
Se sente viva vir a morte que corre
E se assenhora de ti desenfreada
Como água fria vinda de enxurrada
E ali jazes viva mortificada
Por dentro já estás gelada
Pesada tombas em torpor
E sobras indefesa serva da dor
Lancinada por criatura sem pudor
Que delineou lesto tua destruição
Fugiu cobarde sem justificação
Desprezou presumido tua dor
De olhar vazio olvidado do amor
Rindo exibindo a pura maldade
Hasteando alto a feia vaidade
Do alienado que nega a verdade
A besta sádica riu fria, queria saber
Até onde suportavas tu sofrer
E deleitou-se a fazer-te doer
Ver-te viva a morrer

                          **** CAMILA CARREIRA***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas...

Fernando Pessoa
A vida é má e o pensamento é mau,

Poema Antes tu dúbio amor


Ai esta tristura entranhada que me prende
camila carreira, poesia portuguesa, poemas de amor cinzasNuma solitude vasta que me transcende
Como asas amplas de negro infinito,
E vácuos que sufocam o que grito
Quis tudo como o moribundo aflito
Amar, arder, desejar como o proscrito
Entreguei-me acesa cega e desesperada
Ao beijo que me salvou... inesperada
A incerto amor de lucidez inapropriada
Acreditei que a má sorte me olvidava
E por fim senti a dor a ser sedada
Embriaguei-me na turva ilusão
Senti-me resgatada dos meus medos
Dos meus becos negros e degredos
O beijo esquartejou de luz a solidão
Arrancou-me brusca e piedosamente
Do meu caminho fatídico e finito
Trilho insípido e seguro
Mas sempre, sempre tão duro.
Exausta de me saber ali
E se só no teu beijo existi
Decidi perder-me em ti.
Antes tu meu dúbio amor
Que a firmeza da eterna dor.

**** Camila Carreira ***  

Momentos de cultura... 


Bernardo Soares
Durei horas incógnitas, momentos sucessivos sem relação,

Poema de amor sem tempo nem lugar -Ricardo Reis, Antes de nós nos mesmos arvoredos

camila carreira poetisa, poesia portuguesa, poesia romanticaQuero-te amar aqui e agora
Seja lá dentro ou cá fora
Pois se meu coração chora
Jamais te deixarei ir embora

Aceita-me este beijo que te quero dar
Acolhe este peito que te quer abraçar
Abre-te neste amor que não posso adiar
Anda vem comigo voa, vamo-nos amar

Tenho pressa de ti quero ir nesta premência
Pressa de te ver e sentir, fula impaciência
Num ímpeto que me move, frenético louco
Pois todo o tempo contigo é pouco

Anda não demores vem sentir o meu peito
Tocar-me nas nuvens azuis onde me deleito
Anda não percas tempo olha que tenho pressa
Não tolero esta espera, o tempo que desapareça

Não te quero aqui só amanhã perto de mim
Nem te quero beijar só ontem no amor sem fim
Nem quero que estejas hoje apenas no presente
Quero banir o tempo, para-lo... quero-te sempre

E não quero saber-te apenas aqui, ali ou além-mar
Quero-te beijar, abraçar e ver em qualquer lugar
O espaço e o tempo deixarão de nos separar
Porque eu quem te sonha e ama os vou eliminar

****CAMILA CARREIRA ***

Momentos de cultura... 


Ricardo Reis Antes de nós nos mesmos arvoredos

Poema do desabrigo da vida- sádico

POEMA DO RECOMEÇAR A VIVER 

camila carreira, versos curtos de amor, poemas de amor rosas e cinzasMinha vida foi súbito desabrigo
De que nas névoas turvas da paixão
Me lograste espoliar
No mel doce do amor
Ocultaste o veneno
Que me fizeste tragar
Retiraste-me o chão, o teto
As estrelas, o sol e o luar
Deixaste-me incerta a derivar
Sem luz ou trilho p´ra me nortear
Ergui-me débil dormente
E empurraste-me impiedosamente
Para a premência de reiniciar no fim
Quando o meu viço se estava a apagar
Pisar selvas ignotas… desbravar
Sem tempo ou vigor para o encetar
Porque a vida não se compadece
Nem dos que não querem continuar.

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa

Ah, bate levemente, mais levemente!

Poema de amor mórbido e sem sorte

AMOR DE MORTE 

camila carreira poetisa, poemas frases amor, sofrimento, poesia portuguesaPermite-me sobre ti repousar
Extenuada da rispidez do mundo
Deixa que entorpeça no teu peito
Que seja ele meu imutável leito
E teus braços rígidos, meu amor
Sejam meu manto negro protetor
Meu abrigo sepulcral indolor

Deixa-me e não digas nada...
Renunciar sossegada...
Deixa-me desabar desgarrada
Porque teimam ter-me vitalizada?
Se é por ti amor que me sinto enlaçada
Tentada nesse sono perpétuo e sereno
Ansiando ruir no teu gélido peito pleno
Escapar sentir-me abrigada
Desta vida rude abalroada
Desta dor inerente endiabrada
Deixa-me não digas nada
Pausar no niilismo do teu peito
E se é a vida que eu enjeito
Não me digas que lhe devo respeito…
Cala-te e não digas nada
Deixa-me repousar aniquilada

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
...Como condenado

Poema do amor que se vagabunda - Fernando Pessoa Vi passar, num mistério concedido

camila carreira, poesia portuguesa, blog poemas de amor rosasTenebroso sentir
O mar encrespado que me inunda
Escabroso aceitar
A vaga imensa que me afunda
Assombroso escutar
A tempestade que dentro de mim retumba
Custoso fitar
A imensidão vazia da penumbra
Pavoroso ficar
Nesta treva que jamais se alumbra
Luminoso ver
Este amar que em sonhos se vislumbra
Perigoso vadiar
Na senda dessa quimera que me deslumbra
Onde nem a dor ou malícia me assombra
Vou eterna adicta do amor, que o vagabunda

****CAMILA CARREIRA ****

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
Vi passar, num mistério concedido,

Poema de sonhos roubados

camila carreira, poemas de amor cinzas e rosas, poesia portuguesa 2018

SONHOS QUE VOAM 

Quedo-me estática híbrida
Entre mim e outro ser qualquer 
Aquele que não consigo conter
Sinto-o apenas como ferida
Difusa lágrima dentro a doer
Acolho-me dentro de mim
Esventrada da dor sem fim
Tolhida em demente apatia
Tombo ali queda e muda
Inerte sem ambicionar andar
Vejo asas que se revolvem no ar
Ágeis leves deixam-me sonhar
Porque me forças-te a rastejar?
Se sabes o quanto sonhei voar
E o sonho foge veloz de mim
Nas asas que tonta lhe leguei
Nas asas que pra mim sonhei
Agora resignada caída enfim
Vejo o sonho e asas partirem a voejar
Enjeitando quem os estava a sonhar
Desprezando quem jurou amar

**** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e outras poesias... 


Dr. Pancrácio (Fernando Pessoa)
SONHO

Poema de amor e traição, (Bernardo Soares A minha vida é tão triste, e eu nem penso em chorá-la)

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, poesia portuguesa

VIDA ESTÉRIL 

Caminhei assombrada e triste
Cabisbaixa de dor em riste
Como alguém que já nem existe
Cambaleei em trilhos nunca tomados
Entre seres desfigurados
Em sonhos nunca animados
Com personagens desbotados
Meus anseios sequestrados
Nessa liberdade agrilhoada
Abraçando minha ninhada.

Tanta promessa infundada
Paralisou-me em teia enlaçada
Negras são essas memórias
Que velaram minhas histórias
Onde o sol jamais se avistou
Onde o júbilo nunca singrou
Fui uma vida desprendida
Usada estéril e ofendida
Largada em qualquer desvão
Esfarrapada pela ingratidão
Dilacerada pela traição
Nem os anjos me absolverão

**** CAMILA CARREIRA ***


Momentos de cultura e outras poesias... 


Bernardo Soares
A minha vida é tão triste, e eu nem penso em chorá-la;

Poema da guerreira filha do vento - Fernando Pessoa (Antes do monólogo da treva)

GUERREIRA 

Renascida guerreira filha do vento
camila carreira, poemas de amor cinzas e rosas, poetisa portugalRepousa desperta no gélido relento
Noites de insónia em busca de alento
Emerge das trevas em firme intento

pensamentos sós ondeiam em fantasias
Desorientados revoltos, surgem gritantes
Urrando alongadas árias pérfidas e heresias
Pesadelos deformados, lúgubres... Distantes

E fintando lâminas de gelo lancinantes
Invisíveis traiçoeiras ágeis cortantes
Sem tréguas oculta sangrenta formosura
Talhada em cortes brutos de hórrida tortura

Feridas ardentes varridas por gotas salgadas
No derrame longo das lágrimas choradas
Dos golpes severos dessa vida matreira
Onde o dócil amor foi a mais vil ratoeira.

 *** CAMILA CARREIRA ****


Momentos de cultura e outras poesias.... 

Fernando Pessoa
(Antes do monólogo da treva)

Poema das borboletas e do beijo

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O beijo vermelho que te dou 

Airosas as mariposas
Planando metafóricas borboletas
Como flores que se libertaram
De raízes que as aprisionaram
E belas de cores esvoaçaram
Em silêncio tão colorido
Num planar divertido
Sôfrego e desprendido
Como recluso que se libertou
Ou como o beijo que te dou
Suave vermelho cheio de cor
Solto pleno de amor
Voando agora liberto
Do meu fingido pudor

            ***  CAMILA CARREIRA **** 


Momentos de cultura e outras poesias... 


Fernando Pessoa
Fiquei doido, fiquei tonto…

Poema de amor e desilusão da paixão - O último poema de Fernando Pessoa

JARDIM DO ENGANO  
camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, poesia portuguesa

Pelos estreitos recônditos da vida
Catei devota a senda de um amor
E foi em bucólicos becos na ida
Que me deleitei em aromas e cor

Ladeada de muros verdes cor de pedra
que se mesclam como amantes
Inspirei o odor do musgo, que lá medra
E meus olhos pausaram, verdejantes

Sonhei-te e vi-te entre o arvoredo
Amei-te e dei-me toda solta em ti
Temente adentrei-me perdi o medo
Amando o tudo que por ti senti

Procurei refúgio nos teus abraços
Alívio casto da solidão maldosa
Parti, desolada e sem criar laços
Eras caos e trevas… luz dolosa

Juras não cumpridas e inverdades
Rasgaram sonhos, frias e penetrantes
Revelando cobardias e deslealdades
Afeições ocas e delírios repugnantes

Decidi proibir-me de amar e sonhar
Cansada do engano e da incerteza
Aconchego-me no regaço da tristeza
Resigno-me serena invadida pela leveza
Apática de quem já nada quer esperar

**** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


O último poema de Fernando Pessoa?

Qual foi o último poema de Fernando Pessoa?

Poema de desalento e futuro fatídico

AÇO E LODO

Vacilante avassalada tentando ser
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Na dúbia firmeza do querer viver
Na rijeza resvaladiça do engodo
Desta vida ungida de aço e de lodo

Abstrato inesperado maciço destino
Exalas sinais líquidos de desventura
No âmago bulícios... a voz da loucura
Agonias da ruína que a mim vaticino

E conjuradas nas derradeiras escrituras
Como epitáfios lavrados em conjeturas
Lastimam-se inclemências idas e futuras
Que drenaram raízes de vivas criaturas

Hirta no vácuo entre razão e nirvana
Dissipo-me no rumo perdida insana
Esquecida… Esquecidas as intenções
Prevejo o longe em ténues projecções

**** CAMILA CARREIRA ****


Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Deve chamar tristeza Fernando Pessoa

Poema dos risos tristes sem voz

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisaÉ bem profundo sufocado, em nós
Que se emudecem os risos tristes, sem voz
O rir renunciante de quem se rende ao destino
Quebrada, submetida ao viver pequenino
Vã enfureço-me, debato-me e desatino...

na vida que me submerge e sufoca
A cada exasperado esforço
Sinto o mundo todo a pesar.
Um mundo que me condenou assim...
Apenas só por amar…
Mesmo em porto seguro não quero já embarcar
Mesmo os sonhados sonhos já me fazem chorar
Perdem-se a navegar em mares impetuosos
E atracam sempre nos portos mais perigosos

As viagens sonhadas já foram demasiadas
Porque as tempestades os rumos desfiguram
Vagas e vendavais fúrias súbitas desvairadas
Desviam rumos que nem amor ou lealdade seguram

**** CAMILA CARREIRA ****


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Fernando Pessoa: Uma Admiração Pastoril pelo Diabo

Poema de pétalas garridas

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A VIL ENXURRADA 


Sou pétala robusta vivaz e garrida
Que pende em flor frágil desbotada
Sou alma sadia, firme e atrevida
Desafiando um mundo que vale nada
Flutuo insanável cansada
À espera de nada.
Porque a primavera fecunda
Só traz trovoada.
E a pétala garrida vivaz atrevida
Solta-se enfim desgarrada
Com halos de esperança ateada
De raios de luz matizada
Parte na esperança da alvorada
O recomeço do nada
Voejo apressada
Salvar-me-ei, por certo
Desta vil enxurrada
Desta vida endemoniada

*** Camila Carreira ****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Bernardo Soares
Reconheço, não sei se com tristeza, a secura humana do meu coração.

Poema ao traidor

VERSOS/ POESIA DO TRAIDOR 

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, versos curtosVim da angústia acre até aqui
Apenas para escrevinhar de ti
Do tudo da vida que nada vivi
Do meu eu todo que por ti perdi

Eternidades ocas onde errei vaga
Pelo mundo do teu cru tormento
Privada escrava só e nunca paga
Nunca livre nem um momento

De teus sonhos insanos fui instrumento
Dei-tos todos dei tudo que me pedias
Pagaste com desprezo e meu sofrimento
Sangraste-me até teres tudo que querias

O traidor frio usurpa vidas válidas
Defrauda e burla quem os escoltou
Mente com promessas vis e pálidas
E despreza depois os que já espoliou

Traidor mórbido é cruel impostor
Enjeita quem o fez e arrimou
Como oportunista parasita o amor
Devasta enganando quem o edificou

Não sente dor ou remorso isso sei
Nem gratidão, vergonha ou piedade
Presumido impenitente é cruel rei
Traidor que habita palácio simulado
Onde reina a mentira e a deslealdade

***CAMILA CARREIRA ***

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HOMENAGEM AO TRAIDOR

Por Cecília Meirelles, do “Romanceiro da Inconfidência”

Poema de esperança e libertação - Fernando Pessoa A água da chuva desce a ladeira.

A solidão era negra e medrava

A chuva pende de nuvem fissurada
camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa
Aura que volve baça ali amargurada
Ruas longas apontam pro mar
Estreitam infinitas findam no ar
 fatídica noite revelada no olhar
E no crepúsculo… o mar todo é céu
emudeço no som do choro que é meu
Melodias, nostalgias... que fui eu

prisioneira entre paredes caladas
só sem vida nem luz esmoreci
A solidão era negra e medrava
Engolia-me, como uma nuvem gelada
E para nada... minha vida foi levada
Ergo o olhar apagado para o céu
Suplicando por brilho e luz na terra
Mas um manto negro como um véu
quanta luz eu busco ele encerra
Urge em mim um ímpeto de emergir
Sinto as energias eclodirem e quero sair
Do inferno onde, por sacrilégio, me confinaram
Abro os braços e num enfurecido impulso
Abraço a luz, vibro, vivo… e liberta, voarei
Assim fora eu em sonho meu…
Melodias, nostalgias nada mais que fantasias 
... e só eu

              **** Camila Carreira****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas.... 


Fernando Pessoa
A água da chuva desce a ladeira.

Sem que ninguém dê por mim

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa portuguesaPoesía e imagens de amores perdidos, jazidos 

Ao ritmo do vento que sopra
Tamborilando em pétalas roxas
Aromatizadas de lírios
Sinto inebriados delírios,
Pelos vendavais trazidos,
Amores perdidos, jazidos 

Não queiram saber de mim
Sou aroma... sou mera brisa
Sou sem princípio nem fim
Ninguém saberá de mim.
Porque eu existo assim
Pairo indefinidamente
indelével e sem destino
Desgarrada e sem ânimo
Volátil, num qualquer jardim
Sem que ninguém, dê por mim...

   ***Camila Carreira****

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Sabe qual é o poema de Fernando Pessoa mais citado na Internet?

O horizonte explodia em fulgor

camila carreira, poemas de amor cinzas e rosas
O firmamento explodia em fulgor
A amplidão celeste exalava esplendor
Quente, cinza, laranja, brilho sedutor
Colidiam efusivas, a luz e a cor
E eclodiam exibindo o baço rubor.
O vento lacerava nuvens
Trespassadas pelos ímpetos do sol
E o horizonte crescia para nós
Como um plano aberto, do cinema.
Os céus alongavam-se,
Parecendo querer tocar-nos
E impor tal miragem do éden
Uma exaltação supra mundana da beleza,
Glorificada e adornada pela natureza
Uma folia de nuvens, mar, céu e cores
Horizonte longínquo meu sacramento 
Mutante… instável retrato belo e lento
Renovado a todo e qualquer momento
Basta mudar a luz ou o vento
A ondulação ou o tempo
Basta passar uma nuvem em tom cinzento
Basta um olhar teu mais doce ou violento
Um sentir mais frugal ou um mais atento
Que tudo se altera no meu firmamento

**** Camila Carreira ****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 

Fernando Pessoa
CORPOS

Poema dor desmedida

Despojada de mim

Procuro-me num labirinto tortuoso sem fim,
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O tempo corre… apressa-me e cansa-me
As forças esvaem-se numa torrente frenética
E não encontro forma de a estancar
Definho eu sei,
Ofereci a minha existência a um fantasma
Que, fria e habilmente, a soube aniquilar
Aliciou-me para o limbo sem me rogar
E evaporou-se na penumbra d´um luar
Na cobardia silenciosa rudimentar
Alguém que nunca tive audácia de magoar.
Agora, em mim, flui desmedida dor…
E avisto-me, remota ténue como uma aparição
Débil, diluída e só além na escuridão
Incorpórea na sombra medonha de ninguém
Numa noite fria, sem estrelas nem luar
Sou um mero espectro… vago e disforme
Silhueta de árvore retorcida irreal
Dizimada, dissecada e prestes a tombar
Cruelmente privada da luz de viver
Longe do fulgor do sol que me furtaram
Sucumbi, eu sei… lutei ao lado do inimigo
Agora…
Frágil, moribunda vencida pelas possantes emoções
Agastada pela intensa raiva de mim mesma
Lamento num suspiro largo e languido:
-Porque me deixei aniquilar…?
-Como me posso perdoar?

*** Camila Carreira ***

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Bernardo Soares
Como uma esperança negra, qualquer coisa de mais antecipador...

Poema de desalento e sulcos da vida - Fernando Pessoa Hoje estou triste, estou triste.

A dor ensina-nos a deixar doer
poemas romanticos, camila carreira, blogue poemas amorSubmissos ao inexequível
Aprendemos a entranhar a dor que foi
E nunca vai deixar de ser
Que ainda nos faz sofrer.
Mágoas impossíveis de esquecer
Latejam perenemente
Como um coração a bater
Que só para quando morrer…
Mesmo dorido e estafado,
Dói e volta a doer
Como um castigo compassado
Surdinado
Que celebra más memórias,
Sem nunca se comover...
Revives a tormenta
De jamais poder esquecer
Do tanto que deste,
Sem esperar receber
Do muito que perdeste,
E não vais reaver
Do tempo que voou,
E não pudeste viver
E a dor entra sem nunca sair
Rasga e molda o porvir
E cada fenda desenha a vida
Violentas lágrimas a sulcaram
Como às rochas que a onda fustiga
E profundos sulcos lhe escavaram
Dói-me a alma como um espinho
Que a vida cravou em mim
Bracejo grito e desatino
Repudio esta dor sem fim.
Dói-me o olhar só de ver,
O quanto caí profundo
E sinto convicta a perdição…
Que nada me salvará do mundo

*** Camila Carreira ***


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Fernando Pessoa
Hoje estou triste, estou triste.

Poema de desolação de uma vida queimada

Desviei-me de mim
poemas de amor rosas e cinzas, camila carreira, poetisaEsqueci que existia
Deixei de ser,
E nem percebia
Só quis dar
E nem recebia.
Exigiram-me tanto
E eu nada pedia.
Atarefada e esgotada
Porque a todos atendia,
A minha vida esquecia
Pelo bem de todos cedia
Numa entrega doentia.
Desleixei minha existência
Acreditei, já nem me defendia
Da maldade que me oprimia.
Promessas falsas e mentiras,
Isolamento e solidão… e eu cria
Entorpecia e nem sabia.
O meu futuro passou a utopia
Que aos poucos se desvanecia

Mas eu torpe e espoliada
Já nem podia ripostar
Nada tinha para me validar
Para exigir ou negociar
Era um nada frágil a pairar
Esqueci de duvidar
Esqueci de querer
De sonhar
Esqueci de rir
De pedir
De me olhar
De gritar
Ou de gemer
Quando estava a doer
Esqueci de me debater
camila carreira, poemas de amorEsqueci de mim…
Até que chegou o fim...
Usada e descartada
Olhei-me com desdém
Não me sentia ninguém
Apenas cinzas frias e baças
Espólios da devastação
De uma vida queimada...

*** Camila Carreira ****


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... ~


Bernardo Soares
Minha alma é uma orquestra oculta;

Poema de menina exaurida - Bernardo Soares Sou mais velho que o Tempo

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, versos curtos, romanticoAtraiçoada menina exaurida jamais voltou
Ocultou-se em alcova insondável e chorou
Rei a quem amara traiçoeiro a destronou
E de menina a mulher tão pouco logrou
Senão velas ténues que o vento apagou
Jazigos de solidão que o olvido dizimou
Astros extintos por lágrimas que derramou
E do leito subtérreo vencida murmurou
Árias de despedida do tempo que findou
Num mundo que nunca a abraçou

- Oh mundo
Vagabundo
Monótono rotundo
Maculado imundo
De nuvens de chumbo
Sem sol… moribundo
Em cinza me inundo
De carvão oriundo
E me afundo
Bem fundo
Em triste profundo

       **** CAMILA CARREIRA****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Bernardo Soares
Sou mais velho que o Tempo e que o Espaço porque sou consciente.

Poema da cor da ira - Álvaro de Campos TRAPO

RAIVA ESCARLATE 

camila carreira, poemas romanticos, versos curtos de amor, blog poesiaO mundo enraivecido manietou-me
Para ostensiva e ferozmente
Estender a mim, os seus agravos
Fez-me refém e serva da sua dor
lustrou de escarlate os tons do seu horror
Sentimos em uníssono, raiva e amor
E tingimos os céus dessa mesma cor
Porque andará o crepúsculo tão irado?
Raiado de veios vermelhos… ensanguentado
Anunciando que o paraíso foi olvidado
E da desumanidade que me fere e tolhe
Ninguém acode ou se assume culpado...
O meu espírito ferido reflete-se no horizonte...
Que enrubesce, e ruge feroz e magoado
Exibe, sem pudor, a ferida que me atenta
A raiva da ingratidão que mutila e atormenta.
Não, e não adianta falsear a verdade
Para ocultar a ti e ao cosmos, tua vil impiedade
Porque, Ele, sagaz e justo, vigia eternamente
Jamais ausente ou indiferente
À cobardia de quem nega a verdade
!

A ira e dor continuarão a avermelhar
Toda a extensão que puderem alcançar
Nos céus e terras e além mar
E ainda assim jamais se irá mitigar
Toda a amplidão da minha ira e dor
Que nunca sequer me deixaste mostrar

*** Camila Carreira***


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Álvaro de Campos
TRAPO