Poema de paixão sensualidade e erotismo

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzasVassala solta no teu prazer


O meu olhar fundia-se em ti.
Vacilei de desejo quando te senti,
Cálido, cercada nos teus braços,
Meu corpo ofegou de ânsia,
Desabou rendido, estendido.
Eramos tão só tu e eu
E a tua pele na minha… ardiam.
Rastilhos febris que se consumiam
As tuas mãos possuíam-me.
O teu olhar penetrava-me.
E teus beijos iam dentro de mim,
E despojavam-me do mundo,
Eramos tão só, tu e eu, nada mais…
Afogueava-me o desejo,
E o prazer intenso de já te ter,
Raspou em mim como uma flecha a arder.
Incendiada, convulsa de prazer,
Entendi que era assim que queria viver
Em ti, por ti, mártir
Vassala solta no teu prazer

             ****  CAMILA CARREIRA****

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 

Fernando Pessoa
Diálogo na treva?


                (Diálogo na treva?)

Cresce em mim uma onda de agonia
E de calado horror que surge e salta
Pelas cavernas fundas da minha alma
E em fissuras ocultas do meu ser
Aponta-as aparecendo, uma onda turva
Duma maré silenciosa e escura
Que cresce e ocupa-me e me afoga em mim.
Quero fugir-lhe e soerguer-me, abrir
Um voo e ela sobe-me, silente,
Em     (...)  naufragadora.
Cresce em mim e eu transido desse horror
Vejo sempre mais perto do que cria
Sempre em remotas dobras elevando-se
Das solidões do meu ser e cada vez
Mais dentro em mim.

Sois um desejo, uma ânsia, uma agonia?
O que quereis, que me impelis subindo
Não sei para que horror velando um fim?
Para que sou eu vosso? Aonde levais
Esta alma que só sabe resistir? Ergueis-me
Em guerra contra o ser, e eu odeio
O que vejo em minha frente, O Imediato.
Por isso, oh mares, sóis, estrelas, ventos,
Oh enigmas parados numa vida
De enigmas cheia desprendidamente,
Eu dou-vos vida só para odiar-vos,
Eu não sou vosso. Deste dia avante
Sou o inimigo de ser, sou o hórrido,
(...)
O crime eterno de não ter razão
De existir e fitar-me. Digo adeus
A tudo que se pode amar ou crer,
A tudo que na terra vive ou dorme.
Cousas com um sol exterior vão [...]
Eu faço-vos escuras do meu ódio.
Caia uma treva imensa na minh’alma
Para com tudo, seja eu a noite,
Esquecendo-se em ser.
                                      Sobe,
Avassala-me, túrbida corrente,
Mas tu e eu em ti. Ciência,
Eu substituo-vos a escuridão
Da essência do meu ser e vosso ser.
s.d. Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.  - 110.


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