O horizonte explodia em fulgor

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O firmamento explodia em fulgor
A amplidão celeste exalava esplendor
Quente, cinza, laranja, brilho sedutor
Colidiam efusivas, a luz e a cor
E eclodiam exibindo o baço rubor.
O vento lacerava nuvens
Trespassadas pelos ímpetos do sol
E o horizonte crescia para nós
Como um plano aberto, do cinema.
Os céus alongavam-se,
Parecendo querer tocar-nos
E impor tal miragem do éden
Uma exaltação supra mundana da beleza,
Glorificada e adornada pela natureza
Uma folia de nuvens, mar, céu e cores
Horizonte longínquo meu sacramento 
Mutante… instável retrato belo e lento
Renovado a todo e qualquer momento
Basta mudar a luz ou o vento
A ondulação ou o tempo
Basta passar uma nuvem em tom cinzento
Basta um olhar teu mais doce ou violento
Um sentir mais frugal ou um mais atento
Que tudo se altera no meu firmamento

**** Camila Carreira ****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 

Fernando Pessoa
CORPOS

Poema dor desmedida

Despojada de mim

Procuro-me num labirinto tortuoso sem fim,
camila carreira, poetisa portuguesa, imagens e poemas, versos amor
O tempo corre… apressa-me e cansa-me
As forças esvaem-se numa torrente frenética
E não encontro forma de a estancar
Definho eu sei,
Ofereci a minha existência a um fantasma
Que, fria e habilmente, a soube aniquilar
Aliciou-me para o limbo sem me rogar
E evaporou-se na penumbra d´um luar
Na cobardia silenciosa rudimentar
Alguém que nunca tive audácia de magoar.
Agora, em mim, flui desmedida dor…
E avisto-me, remota ténue como uma aparição
Débil, diluída e só além na escuridão
Incorpórea na sombra medonha de ninguém
Numa noite fria, sem estrelas nem luar
Sou um mero espectro… vago e disforme
Silhueta de árvore retorcida irreal
Dizimada, dissecada e prestes a tombar
Cruelmente privada da luz de viver
Longe do fulgor do sol que me furtaram
Sucumbi, eu sei… lutei ao lado do inimigo
Agora…
Frágil, moribunda vencida pelas possantes emoções
Agastada pela intensa raiva de mim mesma
Lamento num suspiro largo e languido:
-Porque me deixei aniquilar…?
-Como me posso perdoar?

*** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 

Bernardo Soares
Como uma esperança negra, qualquer coisa de mais antecipador...

Poema de desalento e sulcos da vida - Fernando Pessoa Hoje estou triste, estou triste.

A dor ensina-nos a deixar doer
poemas romanticos, camila carreira, blogue poemas amorSubmissos ao inexequível
Aprendemos a entranhar a dor que foi
E nunca vai deixar de ser
Que ainda nos faz sofrer.
Mágoas impossíveis de esquecer
Latejam perenemente
Como um coração a bater
Que só para quando morrer…
Mesmo dorido e estafado,
Dói e volta a doer
Como um castigo compassado
Surdinado
Que celebra más memórias,
Sem nunca se comover...
Revives a tormenta
De jamais poder esquecer
Do tanto que deste,
Sem esperar receber
Do muito que perdeste,
E não vais reaver
Do tempo que voou,
E não pudeste viver
E a dor entra sem nunca sair
Rasga e molda o porvir
E cada fenda desenha a vida
Violentas lágrimas a sulcaram
Como às rochas que a onda fustiga
E profundos sulcos lhe escavaram
Dói-me a alma como um espinho
Que a vida cravou em mim
Bracejo grito e desatino
Repudio esta dor sem fim.
Dói-me o olhar só de ver,
O quanto caí profundo
E sinto convicta a perdição…
Que nada me salvará do mundo

*** Camila Carreira ***


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
Hoje estou triste, estou triste.

Poema de desolação de uma vida queimada

Desviei-me de mim
poemas de amor rosas e cinzas, camila carreira, poetisaEsqueci que existia
Deixei de ser,
E nem percebia
Só quis dar
E nem recebia.
Exigiram-me tanto
E eu nada pedia.
Atarefada e esgotada
Porque a todos atendia,
A minha vida esquecia
Pelo bem de todos cedia
Numa entrega doentia.
Desleixei minha existência
Acreditei, já nem me defendia
Da maldade que me oprimia.
Promessas falsas e mentiras,
Isolamento e solidão… e eu cria
Entorpecia e nem sabia.
O meu futuro passou a utopia
Que aos poucos se desvanecia

Mas eu torpe e espoliada
Já nem podia ripostar
Nada tinha para me validar
Para exigir ou negociar
Era um nada frágil a pairar
Esqueci de duvidar
Esqueci de querer
De sonhar
Esqueci de rir
De pedir
De me olhar
De gritar
Ou de gemer
Quando estava a doer
Esqueci de me debater
camila carreira, poemas de amorEsqueci de mim…
Até que chegou o fim...
Usada e descartada
Olhei-me com desdém
Não me sentia ninguém
Apenas cinzas frias e baças
Espólios da devastação
De uma vida queimada...

*** Camila Carreira ****


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... ~


Bernardo Soares
Minha alma é uma orquestra oculta;

Poema de menina exaurida - Bernardo Soares Sou mais velho que o Tempo

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, versos curtos, romanticoAtraiçoada menina exaurida jamais voltou
Ocultou-se em alcova insondável e chorou
Rei a quem amara traiçoeiro a destronou
E de menina a mulher tão pouco logrou
Senão velas ténues que o vento apagou
Jazigos de solidão que o olvido dizimou
Astros extintos por lágrimas que derramou
E do leito subtérreo vencida murmurou
Árias de despedida do tempo que findou
Num mundo que nunca a abraçou

- Oh mundo
Vagabundo
Monótono rotundo
Maculado imundo
De nuvens de chumbo
Sem sol… moribundo
Em cinza me inundo
De carvão oriundo
E me afundo
Bem fundo
Em triste profundo

       **** CAMILA CARREIRA****

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Bernardo Soares
Sou mais velho que o Tempo e que o Espaço porque sou consciente.

Poema da cor da ira - Álvaro de Campos TRAPO

RAIVA ESCARLATE 

camila carreira, poemas romanticos, versos curtos de amor, blog poesiaO mundo enraivecido manietou-me
Para ostensiva e ferozmente
Estender a mim, os seus agravos
Fez-me refém e serva da sua dor
lustrou de escarlate os tons do seu horror
Sentimos em uníssono, raiva e amor
E tingimos os céus dessa mesma cor
Porque andará o crepúsculo tão irado?
Raiado de veios vermelhos… ensanguentado
Anunciando que o paraíso foi olvidado
E da desumanidade que me fere e tolhe
Ninguém acode ou se assume culpado...
O meu espírito ferido reflete-se no horizonte...
Que enrubesce, e ruge feroz e magoado
Exibe, sem pudor, a ferida que me atenta
A raiva da ingratidão que mutila e atormenta.
Não, e não adianta falsear a verdade
Para ocultar a ti e ao cosmos, tua vil impiedade
Porque, Ele, sagaz e justo, vigia eternamente
Jamais ausente ou indiferente
À cobardia de quem nega a verdade
!

A ira e dor continuarão a avermelhar
Toda a extensão que puderem alcançar
Nos céus e terras e além mar
E ainda assim jamais se irá mitigar
Toda a amplidão da minha ira e dor
Que nunca sequer me deixaste mostrar

*** Camila Carreira***


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Álvaro de Campos
TRAPO

Poema de amor na eternidade

AMOR E ENTREGA

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Buscam-se prudentes, os sinais
Temendo amar demais
Escapando ao sofrer mais
Dúbios e ariscos, os olhares furtam-se
Esquivam-se aos segredos
Cedem aos medos
Mas exaustos e vencidos
Já sedentos exauridos
Os olhares trespassam, rasgam
Fitam-se... e desvendam enredos
Dissipam-se os medos
As almas penetram-se... fundo
Agora afoitas sem restrições,
Pulsadas pela força dos dois corações
Até ao centro do mundo
E quando menos se espera...
O amor nasce subrepticio
Desliza adentro das almas
Sacia vazios e fantasias
Narcotiza dores.
E cresce desenfreado
Sem discernir certo ou errado
E já o ansiamos prolongado
Apega-se nos diálogos
Expõe-se no brilho do olhar
Sente-se na felicidade a rondar
Um caminho inesperado
De planos, despojado
E os anseios que nos assaltam
Absolvemos como mera aflição.
a força impera e materializa-se
Apodera-se da carne e da alma
E eis que nos rendemos cativos
E já suplicamos por um futuro
Ou mesmo pela eternidade
Imploramos que nunca acabe...

 **** Camila Carreira ***

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Fernando Pessoa
(Depois do amor — na treva)