Poema de amor e desilusão da paixão - O último poema de Fernando Pessoa

JARDIM DO ENGANO  
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Pelos estreitos recônditos da vida
Catei devota a senda de um amor
E foi em bucólicos becos na ida
Que me deleitei em aromas e cor

Ladeada de muros verdes cor de pedra
que se mesclam como amantes
Inspirei o odor do musgo, que lá medra
E meus olhos pausaram, verdejantes

Sonhei-te e vi-te entre o arvoredo
Amei-te e dei-me toda solta em ti
Temente adentrei-me perdi o medo
Amando o tudo que por ti senti

Procurei refúgio nos teus abraços
Alívio casto da solidão maldosa
Parti, desolada e sem criar laços
Eras caos e trevas… luz dolosa

Juras não cumpridas e inverdades
Rasgaram sonhos, frias e penetrantes
Revelando cobardias e deslealdades
Afeições ocas e delírios repugnantes

Decidi proibir-me de amar e sonhar
Cansada do engano e da incerteza
Aconchego-me no regaço da tristeza
Resigno-me serena invadida pela leveza
Apática de quem já nada quer esperar

**** Camila Carreira ***

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O último poema de Fernando Pessoa?

Qual foi o último poema de Fernando Pessoa?

Poema de desalento e futuro fatídico

AÇO E LODO

Vacilante avassalada tentando ser
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Na dúbia firmeza do querer viver
Na rijeza resvaladiça do engodo
Desta vida ungida de aço e de lodo

Abstrato inesperado maciço destino
Exalas sinais líquidos de desventura
No âmago bulícios... a voz da loucura
Agonias da ruína que a mim vaticino

E conjuradas nas derradeiras escrituras
Como epitáfios lavrados em conjeturas
Lastimam-se inclemências idas e futuras
Que drenaram raízes de vivas criaturas

Hirta no vácuo entre razão e nirvana
Dissipo-me no rumo perdida insana
Esquecida… Esquecidas as intenções
Prevejo o longe em ténues projecções

**** CAMILA CARREIRA ****


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Deve chamar tristeza Fernando Pessoa

Poema dos risos tristes sem voz

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisaÉ bem profundo sufocado, em nós
Que se emudecem os risos tristes, sem voz
O rir renunciante de quem se rende ao destino
Quebrada, submetida ao viver pequenino
Vã enfureço-me, debato-me e desatino...

na vida que me submerge e sufoca
A cada exasperado esforço
Sinto o mundo todo a pesar.
Um mundo que me condenou assim...
Apenas só por amar…
Mesmo em porto seguro não quero já embarcar
Mesmo os sonhados sonhos já me fazem chorar
Perdem-se a navegar em mares impetuosos
E atracam sempre nos portos mais perigosos

As viagens sonhadas já foram demasiadas
Porque as tempestades os rumos desfiguram
Vagas e vendavais fúrias súbitas desvairadas
Desviam rumos que nem amor ou lealdade seguram

**** CAMILA CARREIRA ****


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Fernando Pessoa: Uma Admiração Pastoril pelo Diabo

Poema de pétalas garridas

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A VIL ENXURRADA 


Sou pétala robusta vivaz e garrida
Que pende em flor frágil desbotada
Sou alma sadia, firme e atrevida
Desafiando um mundo que vale nada
Flutuo insanável cansada
À espera de nada.
Porque a primavera fecunda
Só traz trovoada.
E a pétala garrida vivaz atrevida
Solta-se enfim desgarrada
Com halos de esperança ateada
De raios de luz matizada
Parte na esperança da alvorada
O recomeço do nada
Voejo apressada
Salvar-me-ei, por certo
Desta vil enxurrada
Desta vida endemoniada

*** Camila Carreira ****

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Bernardo Soares
Reconheço, não sei se com tristeza, a secura humana do meu coração.

Poema ao traidor

VERSOS/ POESIA DO TRAIDOR 

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, versos curtosVim da angústia acre até aqui
Apenas para escrevinhar de ti
Do tudo da vida que nada vivi
Do meu eu todo que por ti perdi

Eternidades ocas onde errei vaga
Pelo mundo do teu cru tormento
Privada escrava só e nunca paga
Nunca livre nem um momento

De teus sonhos insanos fui instrumento
Dei-tos todos dei tudo que me pedias
Pagaste com desprezo e meu sofrimento
Sangraste-me até teres tudo que querias

O traidor frio usurpa vidas válidas
Defrauda e burla quem os escoltou
Mente com promessas vis e pálidas
E despreza depois os que já espoliou

Traidor mórbido é cruel impostor
Enjeita quem o fez e arrimou
Como oportunista parasita o amor
Devasta enganando quem o edificou

Não sente dor ou remorso isso sei
Nem gratidão, vergonha ou piedade
Presumido impenitente é cruel rei
Traidor que habita palácio simulado
Onde reina a mentira e a deslealdade

***CAMILA CARREIRA ***

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HOMENAGEM AO TRAIDOR

Por Cecília Meirelles, do “Romanceiro da Inconfidência”

Poema de esperança e libertação - Fernando Pessoa A água da chuva desce a ladeira.

A solidão era negra e medrava

A chuva pende de nuvem fissurada
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Aura que volve baça ali amargurada
Ruas longas apontam pro mar
Estreitam infinitas findam no ar
 fatídica noite revelada no olhar
E no crepúsculo… o mar todo é céu
emudeço no som do choro que é meu
Melodias, nostalgias... que fui eu

prisioneira entre paredes caladas
só sem vida nem luz esmoreci
A solidão era negra e medrava
Engolia-me, como uma nuvem gelada
E para nada... minha vida foi levada
Ergo o olhar apagado para o céu
Suplicando por brilho e luz na terra
Mas um manto negro como um véu
quanta luz eu busco ele encerra
Urge em mim um ímpeto de emergir
Sinto as energias eclodirem e quero sair
Do inferno onde, por sacrilégio, me confinaram
Abro os braços e num enfurecido impulso
Abraço a luz, vibro, vivo… e liberta, voarei
Assim fora eu em sonho meu…
Melodias, nostalgias nada mais que fantasias 
... e só eu

              **** Camila Carreira****

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Fernando Pessoa
A água da chuva desce a ladeira.

Sem que ninguém dê por mim

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa portuguesaPoesía e imagens de amores perdidos, jazidos 

Ao ritmo do vento que sopra
Tamborilando em pétalas roxas
Aromatizadas de lírios
Sinto inebriados delírios,
Pelos vendavais trazidos,
Amores perdidos, jazidos 

Não queiram saber de mim
Sou aroma... sou mera brisa
Sou sem princípio nem fim
Ninguém saberá de mim.
Porque eu existo assim
Pairo indefinidamente
indelével e sem destino
Desgarrada e sem ânimo
Volátil, num qualquer jardim
Sem que ninguém, dê por mim...

   ***Camila Carreira****

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