Análise de poema de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)

(Ricardo Reis)

Para ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes
Assim em cada lago
a lua toda brilha, porque alta vive.
Odes de Ricardo Reis.
Fernando Pessoa.
1ª publ. in Presença , nº 37. Coimbra: Fev. 1933.

Ricardo Reis é - nas palavras do Pessoano Prado Coelho - entre os heterónimos o "amante do exacto", aquele que prega os ensinamentos firmes e nobres que vêm pela herança clássica do homem.
Reis é aquele que aceita a vida sem pensar, mas Reis, oposto de Caeiro, sente em si mesmo a opressão da Natureza e da vida. Reis ressente-se com ela e gera em si mesmo um sofrimento com a perda que escolhe ser a sua.
Ataraxia - calma de espírito, resignação - e em Ricardo Reis sobretudo: indiferença. Este é a palavra chave para resumir a atitude de Reis-Pessoa, e também de Pessoa-Reis, perante a vida.
Ricardo Reis faz uso do imperativo em verbos como “sê, exclui, põe”, dando conselhos sugerindo que se seja íntegro e que se mostre entrega/compromisso nas acções e na vida.
“nada/Teu exagera ou exclui” –  Sugere ainda que as pessoas não finjam ser mais do que aquilo que são, portanto este poema é uma crítica de Ricardo Reis ao exagero, à arrogância, pretensão e presunção.
Mas também uma censura ás pessoas excessivamente humildes que temem mostrar as suas capacidades por serem acanhadas, tímidas e pouco determinadas quando se trata de respeitar os seus valores, e acabam assim por "excluir" /ocultar qualidades suas por timidez, vergonha, falta de força de vontade ou humildade excessiva.
Também demanda empenho e entrega sugerindo que as pessoas mostrem tudo o que são naquilo que fazem – sem hipocrisias sem falsidades, sem falsos pudores mas também que não mostrem mais do que o que são.
Empenho, compromisso, integridade e força de vontade. Uma verdadeira mensagem motivacional.

  “Sê todo em cada coisa. Põe quanto és /No mínimo que fazes”. 

Analisando o poema percebemos que a grandeza referida é a comum grandeza humana das pessoas que vivem respeitando sempre os valores clássicos da humanidade. Para seres grande, para seres superior, para seres maior, mais nobre tens que ser inteiro, é isto que Ricardo Reis propõe neste poema que é uma reflexão sobre valores humanos.
E o que é ser inteiro? É aceitar aquilo que se é, e ter coragem de o ser quando se age, agindo em conformidade em todos os momentos da vida, sendo coerente e linear nas atitudes perante os outros e a vida.
É ser empenhado e ter espirito de entrega.
Ser inteiro é também ser uma pessoa com valores, os valores que na época e ainda hoje se pretendem das pessoas com que nos cruzamos na vida.
Integridade, honestidade, lealdade, coragem, entrega, verdade, etc etc
Um cobarde, um desonesto ou um desleal nunca será inteiro pois terá sempre em falta os valores que fariam do homem um ser "grande" e nobre.

Nos últimos dois versos, “Assim em cada lago a lua toda /Brilha, porque alta vive”, Reis conclui que as pessoas que mantém esta atitude nobre que ele descreve, serão admiradas e vistas como exemplo por todos os outros. ... inteira em cada lago, porque vive alta, ou seja, elevadamente, nobremente. Se nos comprometemos naquilo que fazemos, assumimos compromissos, damos tudo de nós e não excluindo nada do que somos nem do que devemos ser, e sendo fieis aos valores que elevam a raça humana, as outras pessoas reconhecerão "os lagos todos" receberão o reflexo, o nosso brilho, a nossa luz, que os guia e as nossas acções, serão o exemplo para os outros e o nosso verdadeiro valor será, cedo ou tarde, reconhecido e admirado.
Alta vive... alcançando a superioridade que eleva o homem, acima dos comuns mortais imperfeitos e cheios de lacunas.