Poema de Cecilia Meireles Motivo da Rosa

camila carreira, famosa poetisa, portuguesa poesia

Poesia das pétalas e rosas

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles

Decidi partilhar este poema de Cecília Meireles por duas razões;
Uma delas prende-se com o facto de o poema ter a ver com o nome do meu blog.
Como se deve escolher o nome de um blog? Eu decidi optar por escolher um nome que descrevesse o conteúdo. Poemas de amor, é a base pois é o amor que move todo o resto. Rosas e cinzas, porque o amor tem tanto de belo e vivo representado pelas rosas, como tem também o lado das cinzas, quando morre ou a chama se apaga sobram as cinzas. Quando perdemos a pessoa amada, sobram as cinzas e os dias cinzentos.

Quando sofremos por amor temos a rosa do amor que nos dá bem estar e beleza ao sentir, mas temos também as cinzas da dor.
Para além de descritivo, também achei o nome versátil porque a palavra cinza é uma cor, mas não uma cor qualquer, pois representa tristeza e incerteza. Para além de ser uma cor é também um despojo de algo que ardeu, que esteve vivo e ardente mas se apagou e as cinzas são o que sobrou. Este foi o raciocínio base do qual surgiu o nome do blog. Poemas de amor, Rosas e cinzas.
camila carreira, famosa poetisa, portuguesa poesia

A outra razão porque escolhi este poema da Cecília Meireles foi porque tropecei nele, recentemente e gostei de perceber que tinha alguns pontos coincidentes com um poema que eu tinha escrito. Onde também eu sou uma pétala esvoaçante num jardim.  Eis as minhas pétalas aladas...

Sem que ninguém dê por mim
Ao ritmo do vento que sopra
Tamborilando em pétalas roxas
Aromatizadas de lírios
Sinto inebriados delírios,
Pelos vendavais trazidos,
Amores perdidos, jazidos
Almas soltas no jardim
Procuram sempre por mim
Onde estou, que nem eu sei
Pois que nunca me encontrei
Deslizo intangível nos prados
Como brisa perfumada
Pelo vento arrastada
Qual pétala alada…
Incorpórea… dissimulada.

Não queiram saber de mim
Sou aroma... sou mera brisa
Sou sem princípio nem fim
Ninguém saberá de mim.
Porque eu existo assim
Pairo indefinidamente
indelével e sem destino
Desgarrada e sem ânimo
Volátil, num qualquer jardim
Sem que ninguém, dê por mim...
                             Camila Carreira

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