Bebo página a página a vida boquiaberta de ternura

camila carreira poesia portuguesa poemas de amor

PROFUSA E DEVOTA

Hoje trago-te versos íntimos – 
ondeiam-me soltos na alma 
Centelhas a colorir-me vidraças
Sorrio da felicidade quando fica simples 
Rede serena que pesca sonhos de amor 
Neste imprevisto mar onde me embalo
No aroma do quarto em que te beijo
No leito em que te sinto… 
Com a audácia crua dos amantes

Claustro que enclausura como em abraço 
Cerco-me de poemas em que germino
Amo em todas letras abstractas
Em todos os verbos das horas profusas
Em todas as noites alvas e confusas
Em madrugadas adjectivas de insónia
Amo sempre tanto e sem pressa 
E nós tão singulares aqui na memória
Tão fora desse cenário que apedreja 
Caídos em rituais de riso e olhares
Caprichosos com ênfase e em glória 
Com o cheiro a café no sulco das palavras

E o que escrevo é amor devoto
Entregue sem ressalvas nem condição 
Porque na hora que a ti regresso    
Bebo página a página a vida boquiaberta de ternura 
Todos os tempos são dias, nossos e brandos
mestria pacata do amor 
Proclamado na serenidade vibrante do olhar

Não quero colidir na frieza duma fraga 
Desabitada… inábil para acolher viva´alma  
Porque de repente... Tudo fica estéril e frio – 
já me não semeio nem germino – 
definho… e tudo me finda
sobram-me poemas e líquenes
Encrostados em almas e nos troncos   

Camila Carreira