Poema do Amor cósmico - Análise do pastor poeta Alberto Caeiro

quadras de amor, versos e poemas, paixão cósmica
todas as citações falam de nós
- torso com muitas alíneas
onde entalhamos a vida 
lavrada de arrepios de amor 
com bocas e mãos em harmonia
subitamente nós no mesmo assombro
e o amor sopro sempre tão original
Fulcral

Existe é força cósmica em mim.
Braço imenso, intenso e abstracto
Olhos em labareda de almas quentes
Beijos meteoritos que atravessam vazios
Incendeiam como relâmpagos, frios
Ininteligíveis velozes
Fixo-me nas estrelas para te chegar
Sentir-te no sopro que és, de vento
Escutar-te nas vagas que és, de mar
Esboçar-te no infindo que és lunar
Serei pássaro ou força esvoaçante
Que te sonha sobrevoar.
És excesso de mar nesta enseada
Colo de virgem apaixonada
Farta inchada 
Nem o espaço nem o tempo
Te apartam de mim
Sinto-te perene a ficar.
Como a lua com o luar
Ou as ondas com o mar
impossíveis de separar...
És a ilha deserta quando naufrago
És universo, sem princípio nem fim,
Amplo azul... para mim 


** Camila Carreira***

Momentos de poesia e cultura 


Análise do pastor Caeiro 

Poema do inatingível abismo onde a viagem termina

poetisa portuguesa, poemas de rosas e cinzas, camila carreira poetisaSurpreendo-me em dias que se desmentem
Em que me sentando à luz da Primavera
A sinto Outono, fosca triste de almas caindo
Flui do crepúsculo líquida melancolia
escuto a noite que exclama solidão
E varrida plo marasmo e prostração
Agito os dias para ouvir o ruído da vida
Sem viço entro pelo outono e fluo
Caída nessa vertigem dos dias noturnos
Exumo efémeras raízes da mentira
Que inventei para ter que viver
infindas noites seguidas de dias!
morrendo a cada outono
como folha caída
Anjos e demónios digladiam-se em mim
Desarrumam-me o interior do corpo todo
E procuro dentro de mim um esconso
Um canto a que me encostasse
Uma sombra que me ocultasse
exaurida das extenuantes horas baldias
Onde só busco desta via, uma saída
Do intangível abismo onde toda a viagem termina
Percorremos cegos, adictos essa estrada da vida
Num incontornável rumo à morte


***Camila Carreira***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas 


Arquivo Pessoa

Poema do amor que me consumia

camila carreira, poesia de paixão, poemas romanticos, frases de amor
Tentei fugir de te amar 
Cansada de dor e a sucumbir
Dias sós de lágrimas a brotar   
Por um amor que nem quero sentir
Torpe doer que me vicia 
De todos sentidos tanto me exigia
Como boca que não se sacia
Obliquo de noite e de dia 
Amar só me consumia 
numa dor que me perseguia

Amor que nas árvores florescia 
No bolhar do mar efervescia 
Gelava nos mármores do altar
Molhava os meus olhos ao luar 
Suspirava no meu respirar
Nas portas que fechava rangia
Viciava os livros que eu lia
Acordava-me enquanto dormia

Doendo... a dor Ubíqua doía...  
No horizonte era névoa e nostalgia
Na solidão minha viva companhia
E mesmo quando triste eu sorria
Amar-te também me feria

A Dor é meu suprimento clandestino 
Quente e vasta te procrastino
Sem amar seria eu fria e vazia
E por certo, inerte e pétrea... morreria!


*** Camila Carreira *** 


Momentos de cultura e curiosidades poéticas 


Alberto Caeiro

O amor é uma companhia

Poema do amor como vagas do mar

versos de amor, quadras de paixão, poesia negra, rimas de namorarEsvoaça no sonho ao vento 
Como ondas do mar ao relento 
Ondas de ternura e de alento
De seda fluídas neste tempo 
E Rasando meus lábios famintos
Acordam-me sonhos extintos 
Onde sempre te sonhei beijar  
Sentir-te como mar sereno
Maresia na pele a roçar 
E em paz e pacato deleite  
Senti o ímpeto de te amar
Como vagas que se alevantam
Bruscas sem amainar
Galgam barreiras e muros
Invadem recônditos escuros
Onde escondera inseguros 
Meus segredos de te amar 


***Camila Carreira *** 

Momentos de cultura e curiosidades poéticas 


Álvaro de Campos
A PARTIDA [c]

Poema da dormente ousadia

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzasAcorrentada no desamor que me amortalha
Vestindo este semblante triste minha mortalha
Ressequido meu amago como facho de palha
Desalentada… finda em jangada que encalha

E se minha alma levitava em sonhos tantos
Desenganada caída dissipou seus encantos
Derribou-se ali débil rendida em prantos
E largou a esperança esvaída nos recantos

No negrume da noite intentei a travessia
Eu só e presa na infinda bruma, sem dia
Sem estrelas nem luar, ai quem me guia?
Quem me desperta esta dormente ousadia?

****** Camila Carreira *****


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Bernardo Soares

Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos.

Poema da busca da verdade

camila carreira, poemas de filosofia, poesia de amor rosas e cinzasÁrduo conceber a plenitude de tudo 
É essencial ser vasto, amplo, voar mais alto
ter sido pássaro nalguma vida
Pairar sobre tudo carregando nada
Arrasto minha sombra na esplêndida vastidão do mar
E voejo a indagar
estigmas gradeados onde há antiguidade
Esse cais das almas feridas atracadas, sabidas
Onde apodrecem turvas águas estagnadas
Dogmas... sombras quietas acorrentadas
Incerta velejo desacorrentada 
Do que busco aí não há nada

Navego adentro de mim primeiro
Depois lírica, solta em barco veleiro 
Arrasto pássaros nos olhos, alucinantes
Contrariando astuta a lentidão da vida
E nas horas robustas debato-me 
Voando como se as asas rompessem o vento
Sentindo estreitar safras de verdade
Nas famintas fissuras da minha alma
Nunca aceitei o todo por metades
Os vazios... 
Quis ir aos limites da audácia dos segredos
Desafiando os mais ancorados medos
Tragando a mais intragável das verdades
Quebrando correntes 
revolvendo o estagnado
Questionando com afronta, o dogmatizado

Penso do tamanho do que sinto. 
Olhares obsessivos nas palavras.
... e aí bem dentro de mim 
mantenho todos os desejos de saber, intactos. 
Nasci pura, heróica, sedenta, curiosa, poética. 
Só uma certeza me cobre... o amor em mim, pela verdade. 
Só ele vale realmente. 

Camila Carreira 

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas.


Fernando Pessoa

O segredo da Busca é que não se acha.

Poema de anjos e demónios diversos

camila carreira, poemas rosas cinzas, versos de verdade, paixão poetaSou alma que grita silêncios  
nas portas do meu inferno 
olhares frouxos sem movimento
num cosmos que não é meu 
e a minha alma minúscula 
por ti curvada é toda nua... só tua
de rosas e aromas perversos 
anjos e demónios diversos 
Inaudíveis transmutados em versos 

Raiando de luz a bruma da saudade 
Beijando o dia nos salpicos da claridade 
e tudo é vago e baço sem sol 
sem verdade. 
Toco no espaço aspiro liberdade 
olho alto vibrações de olhos cerrados
negando a imponente verdade

****Camila Carreira**** 

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas 


Fernando Pessoa
O pensamento é enterrado vivo

Quero passar sem ser, sem ver, sem sentir

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Sofro em mim o medo carnívoro cravado na alma
Eis-me vital
a dor... 
Arde perene como um inferno interior 
dias vividos doridos, porque jamais esquecidos… momentos em que perdi o Éden dos meus sentidos

Oh paraíso intangível e infernal... caída
Por ti me choro...
qual tulipa destroçada em húmus e lodo
Em sombrios bosques do passado. 
Solitários silêncios erigidos da imponência que oculta o meu desviver… 

Entre esgares de névoas escarlate, rastejo pelo musgo húmido, 
sinto terra acre na boca 
Anímica caída, aninho-me devagar no desalento 
desnuda tendida no manto de folhas e lodo, 
regelo... intumescem-se-me os seios
sinto penetrantes nas coxas raízes rígidas, salientes
ferem-me toda
Desassossego-me... mas abandono-me

O mundo lá fora esquece-me em lábios que se calam no olvido triste dos perdidos no tempo
As árvores ignoram-me como o vento
nunca quiseram saber da minha nudez, da minha dor, ou da solidão calada
No barulho longe da poesia... 
Agrego-me camuflada sem aspirar aroma nem cor – olhos cerrados escondida no escuro interior
Quero passar sem ser, sem ver, sem sentir… só ir

Deixo de ser tudo, já nem tulipas, porque vivo sem amores
Morrendo lenta, em amplos estertores –
Passos compassados fugindo do amor

Culpando vis homens… estupores
Sou um nada… já nem terra nem flores.

Renego despontar-me, florir ou ser
Se entre brumas frias de dementes e sem valores
Basta-me ser mero traço insubstancial desenhado em sombras.
Natureza morta de pêssegos garridos perfumados
em tela pintados sem aroma nem cor
Aveludados sem calor…
sou eu..
assim,
sem amor!


Camila Carreira


Momentos de cultura e outras curiosidades culturais