Poema do amor que me consumia

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Tentei fugir de te amar 
Cansada de dor e a sucumbir
Dias sós de lágrimas a brotar   
Por um amor que nem quero sentir
Torpe doer que me vicia 
De todos sentidos tanto me exigia
Como boca que não se sacia
Obliquo de noite e de dia 
Amar só me consumia 
numa dor que me perseguia

Amor que nas árvores florescia 
No bolhar do mar efervescia 
Gelava nos mármores do altar
Molhava os meus olhos ao luar 
Suspirava no meu respirar
Nas portas que fechava rangia
Viciava os livros que eu lia
Acordava-me enquanto dormia

Doendo... a dor Ubíqua doía...  
No horizonte era névoa e nostalgia
Na solidão minha viva companhia
E mesmo quando triste eu sorria
Amar-te também me feria

A Dor é meu suprimento clandestino 
Quente e vasta te procrastino
Sem amar seria eu fria e vazia
E por certo, inerte e pétrea... morreria!


*** Camila Carreira *** 


Momentos de cultura e curiosidades poéticas 


Alberto Caeiro

O amor é uma companhia


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
10-7-1930 “O Pastor Amoroso”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).  - 100.

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