Poema de amor e saudade... onde os poemas me nascem.

poesia portuguesa, 2021 moderna, fernando pessoa,
Transborda solidão aqui longe de ti 
Dramática de cor gélida, invade 
Desabrigo que ninguém quer sentir
voo rasante que arrepia a espinha
Excomungado chão que ninguém ousa pisar
Este do desânimo de viver sem ti
Indolente deixo-me nele tingido das lágrimas
Que resvalam quentes atordoadas 
como os escombros que me constroem

Vagos desaires ameaçam desamor –
Distracção densa como que à espera do fim
Beijos de judas como que a olhar para mim
...oscilante fogo pousado na pressa de amar
- o tempo deixa marca mesmo das curtas travessias
Qual ciclone entrando-me pelo passado
e por lá rodopia de fogo e gelo – 
na primitiva descrença humana - 
na loucura dos corpos - 
na ancestral voz que me estremece o olhar
e o que escrevo sai desta fogueira de tempo
como grinalda ardida consumindo-me por dentro
... até à origem
onde os poemas me nascem
de sangue e carne… de saudade e alma
ardentes... desarrumados


Camila Carreira