Poema de amor e saudade... onde os poemas me nascem.

poesia portuguesa, 2021 moderna, fernando pessoa,
Transborda solidão aqui longe de ti 
Dramática de cor gélida, invade 
Desabrigo que ninguém quer sentir
voo rasante que arrepia a espinha
Excomungado chão que ninguém ousa pisar
Este do desânimo de viver sem ti
Indolente deixo-me nele tingido das lágrimas
Que resvalam quentes atordoadas 
como os escombros que me constroem

Vagos desaires ameaçam desamor –
Distracção densa como que à espera do fim
Beijos de judas como que a olhar para mim
...oscilante fogo pousado na pressa de amar
- o tempo deixa marca mesmo das curtas travessias
Qual ciclone entrando-me pelo passado
e por lá rodopia de fogo e gelo – 
na primitiva descrença humana - 
na loucura dos corpos - 
na ancestral voz que me estremece o olhar
e o que escrevo sai desta fogueira de tempo
como grinalda ardida consumindo-me por dentro
... até à origem
onde os poemas me nascem
de sangue e carne… de saudade e alma
ardentes... desarrumados


Camila Carreira 

Análise de Fernando Pessoa; A dor de pensar - temática de Pessoa ortónimo

   Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a insconciência das coisas ou de seres comuns que agem como ums pobre ceifeira (" Ela canta, pobre ceifeira") ou que cumprem apenas as leis do instinto, como o gato que brinca na rua ("Gato que brincas na rua").
     Com uma intelingência analítica e imaginativa a interferir em toda a sua relação com o mundo e com a vida, o "eu" lírico tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira dor de pensar, que se traduz em insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
   Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente, no entanto, a impossiblidade de conciliar esta dicotomia e de fruir instintivamente a vida.

No âmbito desta temática lemos e analisamos na aula os poemas "Ela  canta, pobre ceifeira", "Conselho", "Liberdade", "Gato que brincas na rua" e "Ó sino da minha aldeia". Nesta temática Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, de ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre ceifeira ou que cumprem apenas as leis do instinto  como o gato que brinca na rua. O "eu" Lírico tanto aceita a consciência como sente uma dor de pensar, que traduz descontentamento e dúvida sobre a utilidade do pensamento. 
Para ilustrar melhor esta temática decidi publicar o poema " Liberdade".

"Ai que prazer
não cumprir um dever,
Ter um livro para ler 
e não o fazer!
 Ler é maçada,
estudar é nada. 
O sol doira
  sem literatura.
O rio corre bem ou mal, 
sem edição original. 
E a brisa, essa,  
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
 Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma."
Quanto melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D. Sebastião, 
Quer venha ou não! 
Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
 Só quando em vez de criar, seca. 
O mais do que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca..."


Isto 

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

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