Dramática de cor gélida, invade
Desabrigo que ninguém quer sentir
voo rasante que arrepia a espinha
Excomungado chão que ninguém ousa pisar
voo rasante que arrepia a espinha
Excomungado chão que ninguém ousa pisar
Este do desânimo de viver sem ti
Indolente deixo-me nele tingido das lágrimas
Que resvalam quentes atordoadas
Indolente deixo-me nele tingido das lágrimas
Que resvalam quentes atordoadas
como os escombros que me constroem
Vagos desaires ameaçam desamor –
Distracção densa como que à espera do fim
Beijos de judas como que a olhar para mim
...oscilante fogo pousado na pressa de amar
- o tempo deixa marca mesmo das curtas travessias
Qual ciclone entrando-me pelo passado
e por lá rodopia de fogo e gelo –
na primitiva descrença humana -
na loucura dos corpos -
na ancestral voz que me estremece o olhar
e o que escrevo sai desta fogueira de tempo
como grinalda ardida consumindo-me por dentro
na primitiva descrença humana -
na loucura dos corpos -
na ancestral voz que me estremece o olhar
e o que escrevo sai desta fogueira de tempo
como grinalda ardida consumindo-me por dentro
... até à origem
onde os poemas me nascem
de sangue e carne… de saudade e alma
onde os poemas me nascem
de sangue e carne… de saudade e alma
ardentes... desarrumados
Análise de Fernando Pessoa; A dor de pensar - temática de Pessoa ortónimo
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a insconciência das coisas ou de seres comuns que agem como ums pobre ceifeira (" Ela canta, pobre ceifeira") ou que cumprem apenas as leis do instinto, como o gato que brinca na rua ("Gato que brincas na rua").
Com uma intelingência analítica e imaginativa a interferir em toda a sua relação com o mundo e com a vida, o "eu" lírico tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira dor de pensar, que se traduz em insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente, no entanto, a impossiblidade de conciliar esta dicotomia e de fruir instintivamente a vida.
No âmbito desta temática lemos e analisamos na aula os poemas "Ela canta, pobre ceifeira", "Conselho", "Liberdade", "Gato que brincas na rua" e "Ó sino da minha aldeia". Nesta temática Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, de ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre ceifeira ou que cumprem apenas as leis do instinto como o gato que brinca na rua. O "eu" Lírico tanto aceita a consciência como sente uma dor de pensar, que traduz descontentamento e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
Para ilustrar melhor esta temática decidi publicar o poema " Liberdade".
"Ai que prazer
não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma."
Quanto melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca..."
Isto
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
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