Poema Espero por ti Vibrante

Sonho de amar em poema


Espero por ti vibrante
Convicta, que me vais achar
Sou porta aberta, gritante,
Que anseia por te ver entrar.
Sou braços pendidos, cansados
Ansiando por te abraçar
Sou olhos tristes, fechados
Que só abrem, ao teu beijar
Sou coração fendido, calado
Que te espera, para sarar
Sou sonho volátil sou brisa
Que te vagueia, sem amainar

*** Camila Carreira  ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


SONHO DE AMAR DOS POETAS 

Este poema fala do sonho e da esperança que se deposita no amor para nos curar de muitas das dores da vida e da solidão, do vazio e da abulia que domina os que nada amam.
O sonho, a esperança ou até mesmo a ânsia de amar ou da chegada de um amor que anime e dê sentido ao viver e à agruras da vida, inspira muitos poetas a escrever, Fernando Pessoa não foi excepção também ele deixou transparecer nos seus poemas o sonho e a esperança de ser bafejado pelas alegrias que um amor proporciona.
Neste texto de Pessoa (Bernardo Soares) é notória a importância que ele dá às sensações, aos sentimentos ao "decorativismo interior" que é o amor e a paixão, pois sao esses os sentimentos que dão cor ao interior das pessoas.
"Neste crepúsculo das disciplinas, em que as crenças morrem e os cultos se cobrem de pó, as nossas sensações são a única realidade que nos resta. O único escrúpulo que preocupe, a única ciência que satisfaça são os da sensação.
Um decorativismo interior acentua-se-me como o modo superior e esclarecido de dar um destino à minha vida. Pudesse a minha vida ser vivida em panos de arras do espírito e eu não teria abismos que lamentar."

Sim, farei...; e hora a hora passa o dia...

III - Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa .2-8-1933 Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.)

Alberto Caeiro - O amor é uma companhia.

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
10-7-1930 “O Pastor Amoroso”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 

«As nossas sensações são a única realidade que nos resta.» Livro do Desassossego por Bernardo Soares.

O SENSACIONISTA
Neste crepúsculo das disciplinas, em que as crenças morrem e os cultos se cobrem de pó, as nossas sensações são a única realidade que nos resta. O único escrúpulo que preocupe, a única ciência que satisfaça são os da sensação.

Um decorativismo interior acentua-se-me como o modo superior e esclarecido de dar um destino à minha vida. Pudesse a minha vida ser vivida em panos de arras do espírito e eu não teria abismos que lamentar.

Pertenço a uma geração — ou antes a uma parte de geração — que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro. Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra casa. E, como é nas nossas sensações, e sobretudo nos nossos sonhos, sensações inúteis apenas, que encontramos um presente, que não lembra nem o passado nem o futuro, sorrimos à nossa vida interior e desinteressamo-nos, com uma sonolência altiva, da realidade quantitativa das coisas.

Não somos talvez muito diferentes daqueles que, pela vida, só pensam em divertir-se. Mas o sol da nossa preocupação egoísta está no ocaso, e é em cores de crepúsculo e contradição que o nosso hedonismo escrupuliza.

Convalescemos. Em geral somos criaturas que não aprendemos nenhuma arte ou ofício, nem sequer o de gozar a vida. Estranhos a convívios demorados, aborrecemo-nos em geral dos maiores amigos, depois de estarmos com eles meia hora; só ansiamos por os ver quando pensamos em vê-los, e as melhores horas em que os acompanhamos, são aquelas em que apenas sonhamos que estamos com eles. Não sei se isto indica pouca amizade. Porventura não indica. O que é certo é que as coisas que mais amamos, ou julgamos amar, só têm o seu pleno valor real quando simplesmente sonhadas.
Não gostamos de espectáculos. Desprezamos actores e dançarinos. Todo o espectáculo é a imitação degradada do que havia apenas de sonhar-se.

Indiferentes — não de origem, mas por uma educação dos sentimentos que várias experiências dolorosas em geral nos obrigam a fazer — a opinião dos outros, sempre corteses para com eles, e gostando deles mesmo, através de uma indiferença interessada, porque toda a gente é interessante e convertível em sonho, em outras pessoas, passamos (...)

Sem habilidade para amar, antecansam-nos aquelas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado. De resto, qual de nós quer ser amado? O «on le fatigait en l'aimant» de René não é o nosso rótulo justo. A própria ideia de sermos amados nos fatiga, nos fatiga até ao alarme.

A minha vida é uma febre perpétua, uma sede sempre renovada. A vida real apoquenta-me como um dia de calor. Há uma certa baixeza no modo como apoquenta.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.  - 329.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

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