Poesia de Vidas rasgadas e fendidas

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Ravinas rasgadas vidas fendidas
Das almas truncadas reprimidas
Incitam lágrimas ácidas cortantes
Que lavram rostos… lancinantes

Nuvens vadiam alheias alvas transparentes
Bálsamos tufados eternamente indiferentes
Encaram dos céus meu grotesco cenário
E escarnecem altivas do meu vil calvário
Que me rasga e fende impiedoso sicário

Caio em vielas letais retorcidas do tempo
Encardidas observam mudas desalmadas
Candeeiros escuros sombreiam sem alento
Derramam sombras frias pelas escadas

E a solidão sobe e desce por degraus partidos
Arrasta-me tirana em seus becos perdidos
Dormente desenlaço-me dos meus sentidos
Rendi-me fere demais suporta-los vivos... 

                  *** Camila Carreira****

Momentos de cultura e curiosidades poéticas

Fernando Pessoa a propósito do calvário escreveu...
Bernardo SoaresSe algum dia me suceder que, com uma vida firmemente segura,L. do D.

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa 2018
Se algum dia me suceder que, com uma vida firmemente segura, possa livremente escrever e publicar, sei que terei saudades desta vida incerta em que mal escrevo e não publico. Terei saudades, não só porque essa vida fruste é passado e vida que não mais terei, mas porque há em cada espécie de vida uma qualidade própria e um prazer peculiar, e quando se passa para outra vida, ainda que melhor, esse prazer peculiar é menos feliz, essa qualidade própria é menos boa, deixam de existir, e há uma falta.
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Se algum dia me suceder que consiga levar ao bom calvário a cruz da minha intenção, encontrarei um calvário nesse bom calvário, e terei saudades de quando era fútil, fruste e imperfeito. Serei menos de qualquer maneira.

Tenho sono. O dia foi pesado de trabalho absurdo no escritório quase deserto. Dois empregados estão doentes e os outros não estão aqui. Estou só, salvo o moço longínquo. Tenho saudades da hipótese de poder ter um dia saudades, e ainda assim absurdas.
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Paulo Noronha
Quase peço aos deuses que haja que me guardem aqui, como num cofre, defendendo-me das agruras e também das felicidades da vida.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares.Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.  - 231.
"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
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