Poema de esperança e libertação - Fernando Pessoa A água da chuva desce a ladeira.

A solidão era negra e medrava

A chuva pende de nuvem fissurada
camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa
Aura que volve baça ali amargurada
Ruas longas apontam pro mar
Estreitam infinitas findam no ar
 fatídica noite revelada no olhar
E no crepúsculo… o mar todo é céu
emudeço no som do choro que é meu
Melodias, nostalgias... que fui eu

prisioneira entre paredes caladas
só sem vida nem luz esmoreci
A solidão era negra e medrava
Engolia-me, como uma nuvem gelada
E para nada... minha vida foi levada
Ergo o olhar apagado para o céu
Suplicando por brilho e luz na terra
Mas um manto negro como um véu
quanta luz eu busco ele encerra
Urge em mim um ímpeto de emergir
Sinto as energias eclodirem e quero sair
Do inferno onde, por sacrilégio, me confinaram
Abro os braços e num enfurecido impulso
Abraço a luz, vibro, vivo… e liberta, voarei
Assim fora eu em sonho meu…
Melodias, nostalgias nada mais que fantasias 
... e só eu

              **** Camila Carreira****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas.... 


Fernando Pessoa
A água da chuva desce a ladeira.


A água da chuva desce a ladeira.
        É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
        A terra a ditosa.

Há muito que contar a dor e o pranto
        De o amor os não querer...
Mas eu, que também o não tenho, o que canto
        É uma coisa qualquer.
21-3-1928 Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).  - 86.

Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa


Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
        Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
        Este luzir é melhor.

O que é a vida? O espaço é alguém para mim.
        Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
        E, sem querer, tem dó.

Extensa, leve, inútil passageira,
        Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
        A minha vida jaz.

Barco indelével pelo espaço da alma,
        Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
        Final do inútil bem.

Que se quer, e, se veio, se desconhece
        Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
        Na noite agora fria

18-9-1920 Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).  - 27.
camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa

Sem comentários:

Enviar um comentário