Sem que ninguém dê por mim

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poetisa portuguesaPoesía e imagens de amores perdidos, jazidos 

Ao ritmo do vento que sopra
Tamborilando em pétalas roxas
Aromatizadas de lírios
Sinto inebriados delírios,
Pelos vendavais trazidos,
Amores perdidos, jazidos 

Não queiram saber de mim
Sou aroma... sou mera brisa
Sou sem princípio nem fim
Ninguém saberá de mim.
Porque eu existo assim
Pairo indefinidamente
indelével e sem destino
Desgarrada e sem ânimo
Volátil, num qualquer jardim
Sem que ninguém, dê por mim...

   ***Camila Carreira****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Sabe qual é o poema de Fernando Pessoa mais citado na Internet?

Damos-lhe uma pista. Começa assim: "Não sou nada. /Nunca serei nada. /Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
A "Tabacaria" é o poema de Fernando Pessoa mais citado nas diferentes redes sociais. A conclusão é de um estudo do Projeto SAPO Labs com a Universidade de Lisboa
Fernando Pessoa, nascido há 125 anos, é, segundo o mesmo estudo, "o poeta português mais conhecido dentro e fora de Portugal, [e] é também provavelmente o mais citado", afirma o comunicado do portal Sapo.

"'Tabacaria' é o poema mais citado, nomeadamente os versos 'À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo' e 'Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta'", lê-se na nota.

Esta pesquisa foi feita através do sítio "O Mundo em Pessoa" - http://fernandopessoa.labs.sapo.pt -, que faz "a recolha automática de citações de Fernando Pessoa, ortónimo e heterónimos, a partir das redes sociais", explica o mesmo comunicado.

Através deste sítio na Internet pretende-se "mostrar quais as frases e versos de Fernando Pessoa que mais inspiram os seus leitores de todo o mundo", mas também "conduzir todos aqueles que usam as palavras de Pessoa até ao seu texto original, ampliando o número de leitores e o conhecimento da sua obra", escreve o portal Sapo.
Segundo a mesma fonte "nos últimos sete dias foram recolhidas quase 500 citações".
"Sempre que é citado um texto de Fernando Pessoa no Twitter ou em páginas públicas do Facebook, `O Mundo em Pessoa` identifica e mostra essa mensagem num interface próprio, para saber se um texto é uma citação da obra de Fernando Pessoa recorre-se a arquivos da obra do poeta disponíveis online, com os quais são comparados os textos do post", explica a mesma nota.

Em http://fernandopessoa.labs.sapo.pt os utilizadores "podem ver as citações mais recentes, à medida que são identificadas, optando por consultar o último dia, semana ou mês".
Também é possível "filtrar os resultados por heterónimo e aceder ao top de poemas mais citados nos últimos 30 dias". Utilizando este critério, o poema "Tabacaria", de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, foi o mais citado nas redes sociais no último mês.

O segundo poema mais citado é da série "O Guardador de Rebanhos", de Alberto Caeiro, outro heterónimo do autor de "Mensagem".
O investigador e estudioso da obra de Fernando Pessoa, Richard Zenith, realçou recentemente à Lusa que grande parte do interesse em torno de Fernando Pessoa se deve ao facto de o poeta "ser muito mais nosso contemporâneo que a maioria dos escritores nascidos no século XIX".

"Parte do barulho em redor de Pessoa tem a ver com o facto de ele ser muito mais nosso contemporâneo que a maioria dos escritores nascidos no século XIX", disse o investigador norte-americano, distinguido com o Prémio Pessoa 2012.

O interesse pela obra de Pessoa tem a ver também com "a particularidade da sua visão do mundo, assim como a maneira de escrever que o aproxima do mosso tempo, e é significativo que grande parte da sua obra tenha sido conhecida na segunda metade do século XX e no atual", acrescentou o investigador, que tem publicado vários textos inéditos do autor de "Mensagem".

Fernando Pessoa (1888-1935) publicou poucos textos em vida, tendo a maior parte da sua obra sido publicada na segunda metade do século XX, e atualmente, continuam a surgir inéditos.

O autor, além de produzir poesia, que assinava com seu nome, criou vários heterónimos, nomeadamente Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, entre outros, que produziram variada poesia e prosa.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.”

Álvaro de Campos, 15-1-1928 
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