A amplidão celeste exalava esplendor
Quente, cinza, laranja, brilho sedutor
Colidiam efusivas, a luz e a cor
E eclodiam exibindo o baço rubor.
O vento lacerava nuvens
Trespassadas pelos ímpetos do sol
E o horizonte crescia para nós
Como um plano aberto, do cinema.
Os céus alongavam-se,
Parecendo querer tocar-nos
E impor tal miragem do éden
Uma exaltação supra mundana da beleza,
Glorificada e adornada pela natureza
Uma folia de nuvens, mar, céu e cores
Horizonte longínquo meu sacramento
Mutante… instável retrato belo e lento
Renovado a todo e qualquer momento
Basta mudar a luz ou o vento
A ondulação ou o tempo
Basta passar uma nuvem em tom cinzento
Basta um olhar teu mais doce ou violento
Um sentir mais frugal ou um mais atento
Que tudo se altera no meu firmamento
**** Camila Carreira ****
Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas...
Fernando Pessoa
CORPOS
O meu corpo é o abismo entre eu e eu.
Se tudo é um sonho sob o sonho aberto
Do céu irreal, sonhar-te é possuir-te,
E possuir-te é sonhar-te de mais perto
As almas sempre separadas,
Os corpos são o sonho de uma ponte
Sobre um abismo que nem margens tem
Eu porque me conheço, me separo
De mim, e penso, e o pensamento é avaro
A hora passa. Mas meu sonho é meu.
s.d.
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993. - 7.
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