Poema das borboletas e do beijo

camila carreira, poemas portugueses, poemas de rosas e cinzas

O beijo vermelho que te dou 

Airosas as mariposas
Planando metafóricas borboletas
Como flores que se libertaram
De raízes que as aprisionaram
E belas de cores esvoaçaram
Em silêncio tão colorido
Num planar divertido
Sôfrego e desprendido
Como recluso que se libertou
Ou como o beijo que te dou
Suave vermelho cheio de cor
Solto pleno de amor
Voando agora liberto
Do meu fingido pudor

            ***  CAMILA CARREIRA **** 


Momentos de cultura e outras poesias... 


Fernando Pessoa
Fiquei doido, fiquei tonto…


Fiquei doido, fiquei tonto...
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços,
Embriaguei-me de abraços...
Fiquei tonto e foi assim...

Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.

Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.
s.d. Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.  - 35. 

A última paixão de Fernando Pessoa não foi Ofélia, foi uma inglesa loira

No último ano de vida, Fernando Pessoa escreveu uma série de poemas sobre uma mulher misteriosa que lhe roubou o coração. O mais recente número da "Pessoa Plural" desvendou finalmente o mistério.
Fernando Pessoa conheceu Ofélia Queiroz em janeiro de 1920, numa das casas comerciais onde costumava colaborar. Tinha 32 anos, ela apenas 19. A primeira carta que lhe escreveu, datada de 1 de março desse ano, foi a primeira de muitas que testemunham o “namoro simples, até certo ponto igual ao de toda gente”, que durou até finais de 1920. Publicadas pela primeira vez em 1978 num só volume, as cartas surpreenderam “sobretudo ao revelar um Fernando Pessoa apaixonado como um adolescente”, como escreveu António Quadros. Eram de tal forma “ridículas” — como todas as cartas de amor têm de ser —, que levaram Carlos Queiroz, sobrinho de Ofélia que privou com Pessoa, a questionar: “Como teria sido possível ao mais poeta dos homens e ao mais intelectual dos poetas portugueses (e, aqui, a palavra ‘portugueses’ tem uma importância muito especial) libertar a tal ponto o coração de literatura?!”.

O fim daquela que é conhecida como a primeira fase do namoro entre Pessoa e Ofélia deu-se em novembro de 1920, sobretudo pela repugnância que o poeta sentia em integrar-se na família da namorada. Como ela própria contou mais tarde, durante os sete ou oito meses que durou o namoro, Fernando Pessoa nunca foi a sua casa. De acordo com José Gil, o namoro entre Pessoa e Ofélia revelou a incapacidade ou impossibilidade de o poeta “‘amar Ofélia à maneira de Ofélia’, de aceitar a máscara correspondente a um homem ‘comum, casado e tributável’”. “A aceitação desta máscara teria obrigado Pessoa – na opinião de Eduardo Lourenço – a matar ‘o monstro sublime da nossa imaginação que nós chamamos Literatura’”, escreveram os pessoanos Jerónimo Pizarro, Patricio Ferrari e Antonio Cardiello, no quarto número da Pessoa Plural.

Nove anos depois, em princípios de setembro de 1929, o namoro recomeçou, depois de Carlos Queiroz ter levado para casa um retrato de Pessoa a beber um copo no Abel Pereira da Fonseca. Ofélia achou-lhe graça e, passados uns tempos, Pessoa enviou-lhe uma cópia autografada com a frase que depois se tornou famosa: “Fernando Pessoa em flagrante ‘delitro’”. Esta segunda fase durou cerca de quatro meses — as cartas cessaram a 11 de janeiro de 1930. Terminava assim a história de amor entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz que, por se desconhecerem outras aventuras amorosas, costuma ser apontada como a única na vida do poeta. De tal forma que, em 1978, David Mourão-Ferreira, um dos responsáveis pela primeira edição das cartas de amor do poeta, afirmou categoricamente que não se conhecia nem era provável que tivesse existido qualquer outro “episódio sentimental” na vida de Pessoa. Mas será que foi mesmo assim?



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