Poema de amor mórbido e sem sorte

AMOR DE MORTE 

camila carreira poetisa, poemas frases amor, sofrimento, poesia portuguesaPermite-me sobre ti repousar
Extenuada da rispidez do mundo
Deixa que entorpeça no teu peito
Que seja ele meu imutável leito
E teus braços rígidos, meu amor
Sejam meu manto negro protetor
Meu abrigo sepulcral indolor

Deixa-me e não digas nada...
Renunciar sossegada...
Deixa-me desabar desgarrada
Porque teimam ter-me vitalizada?
Se é por ti amor que me sinto enlaçada
Tentada nesse sono perpétuo e sereno
Ansiando ruir no teu gélido peito pleno
Escapar sentir-me abrigada
Desta vida rude abalroada
Desta dor inerente endiabrada
Deixa-me não digas nada
Pausar no niilismo do teu peito
E se é a vida que eu enjeito
Não me digas que lhe devo respeito…
Cala-te e não digas nada
Deixa-me repousar aniquilada

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
...Como condenado

                        ...Como condenado
Que ligado   (...)   vê avançar
Qualquer tormento atroz, qualquer horror,
Eu, ligado à vida, vejo avançar
A morte para mim; mas ao condenado,
Inda no seu horror, lhe luz ao menos
Uma sombra desesperada d'esperança,
Inda o horror que espera não é aquele
Horror da morte — não tem o intenso
Carácter de inevitabilidade
Que a morte tem. A mim nem esperança
Nem suspeita de sombra de esperança
Ocorre, mas o horror completo e negro.

Isso que lhe aparece por resgate
É o que eu temo!
s.d.Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.  - 69.
1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.133).


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