Poema do desabrigo da vida- sádico

POEMA DO RECOMEÇAR A VIVER 

camila carreira, versos curtos de amor, poemas de amor rosas e cinzasMinha vida foi súbito desabrigo
De que nas névoas turvas da paixão
Me lograste espoliar
No mel doce do amor
Ocultaste o veneno
Que me fizeste tragar
Retiraste-me o chão, o teto
As estrelas, o sol e o luar
Deixaste-me incerta a derivar
Sem luz ou trilho p´ra me nortear
Ergui-me débil dormente
E empurraste-me impiedosamente
Para a premência de reiniciar no fim
Quando o meu viço se estava a apagar
Pisar selvas ignotas… desbravar
Sem tempo ou vigor para o encetar
Porque a vida não se compadece
Nem dos que não querem continuar.

 *** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa

Ah, bate levemente, mais levemente!

Ah, bate leve, mais levemente!
Eu julguei morto meu coração
Na hora passa, como demente
Ophelia indo para a corrente,
Não sei que incerta minha emoção,
Julguei-te morto, coração triste,
Que nada fazes salvo doer.
Julguei-te morto, e ainda existe
Na tua cinza algum fogo e resiste
Em ti ainda o mal de sofrer.
……
Coração triste, vibras incerto,
Gemes na tua desolação.
Que oásis falso no teu deserto
Não foi esta vaga miragem perto
Da tua inútil consolação!
……
Recolhe, monge definitivo
Ao peito aonde te abrigas
(…)
……
Sê firme, crê que ninguém deseja
O teu asilo ou o teu abrigo.
Em teu deserto nada viceja.
Quem queres tu que te queira...
Coração triste, vive contigo.
……
Abdica e vive de não viver!
……
Pobre criança que queria ter
Em toda a vida canções de amor (…)
26-7-1917
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. 
 - 32.

camila carreira, versos curtos de amor, poemas de amor rosas e cinzas

Sem comentários:

Enviar um comentário