Poema Suspensa num oásis de eternidade

camila carreira, poemas romanticos, quadras e versos de amor,Suspensa em teu oásis de eternidade
Foste tu minha miragem visionária
No teu deserto arenoso vi felicidade
Desfez-se, era areia movediça e precária

Sinto impotência perante tuas altas muralhas
Sofro nas ausências e silêncios que espalhas
É duro amar-te oculto nesses muros enormes,
Grito que te amo e só escutas ecos disformes

Inútil escalada este desejo de te alcançar
Porque te refugias nessa muralha, teu altar
Recolho-me exausta querendo tanto desistir
Drenar este amor, mas sem conseguir

*** Camila Carreira *** 

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
I - Andei léguas de sombra

EPISÓDIOS

A MÚMIA
                I
Andei léguas de sombra
Dentro em meu pensamento.
Floresceu às avessas
Meu ócio com sem-nexo,
E apagaram-me as lâmpadas
Na alcova cambaleante.

Tudo prestes se volve
Um deserto macio
Visto pelo meu tacto
Dos veludos da alcova,
Não pela minha vista.

Há um oásis no Incerto
E, como uma suspeita
De luz por não-há-frinchas,
Passa uma caravana.

Esquece-me de súbito
Como é o espaço, e o tempo
Em vez de horizontal
É vertical.
        A alcova

Desce não sei por onde
Até não me encontrar
Ascende um leve fumo
Das minhas sensações.
Deixo de me incluir
Dentro de mim. Não há
Cá-dentro nem lá-fora.

E o deserto está agora
Virado para baixo.

A noção de mover-me
Esqueceu-se do meu nome.
Na alma meu corpo pesa-me.
Sinto-me um reposteiro
Pendurado na sala
Onde jaz alguém morto.

Qualquer coisa caiu
E tiniu no infinito.
s. d.«Episódios - A Múmia». Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).  - 61.1ª publ. in Portugal Futurista , nº 1. Lisboa: 1917.

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