Poema paixão a dor e fervor que se teme

camila carreira, poetisa portuguesa, poesia paixão

Poesías e ímpetos do coração

Hoje vou-te amar porque quero.
Porque de ti tão só espero
Que tomes o que me urge dar
Ímpetos e fantasias de amar

Quero-te complacente a tolerar
Ignoto amor que te pretendo legar
Sensação súbita que sinto emergir
Anui-me… nem precisas de existir

Admite-me afoita nesta paixão volátil
Arrebatada em belas e levianas fantasias
Paixão é liberdade abstrata e versátil
Eclosão díspar de imprudentes energias

Vivem-se intensos abalos epiléticos
Sôfregos desejam-se os amantes
Afligem-se como choques elétricos
Em frações de ansiedades pulsantes

Paixão é dor e fervor que se teme
Doendo crescendo como vaga do mar
É nau instável derivando sem leme
Nunca sabendo pra onde vai rumar

Quero sentir paixão porque me apraz
Preciso rastilhar rajadas de emoções
Porque me enfada a parda e inerte paz
Dos desapaixonados corações

**** Camila Carreira **** 


Momentos de cultura e curiosidades poéticas...


Fernando Pessoa

Ah quanta melancolia!


Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!

Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada —
Deixai-os, que é tudo assim.

Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego —
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.
3-9-1924  Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).  - 57.

camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, poetisa


camila carreira, poemas de amor rosas e cinzas, poetisa

Sem comentários:

Enviar um comentário