Poema do inatingível abismo onde a viagem termina

poetisa portuguesa, poemas de rosas e cinzas, camila carreira poetisaSurpreendo-me em dias que se desmentem
Em que me sentando à luz da Primavera
A sinto Outono, fosca triste de almas caindo
Flui do crepúsculo líquida melancolia
escuto a noite que exclama solidão
Entediada plo marasmo e prostração
Agito os dias para ouvir o ruído da vida
Sem viço entro pelo outono e fluo
Caída nessa vertigem dos dias noturnos
Exumo efémeras raízes da mentira
Que inventei para ter que viver
infindas noites seguidas de dias!
morrendo a cada outono
como folha caída
Anjos e demónios digladiam-se em mim
Desarrumam-me o interior do corpo todo
E procuro dentro de mim um esconso
Um canto a que me encostasse
Uma sombra que me ocultasse
exaurida das extenuantes horas baldias
Onde só busco desta via, uma saída
Percorremos cegos, adictos essa estrada da vida
num incontornável e único rumo 
o intangível abismo onde a viagem sempre termina


***Camila Carreira***