Alma minha, cativa esvoaça
Voa, voa… esvoaça
Liberta-te e vai com graça
Não te enleies na desgraça
Voa voa… vai e enfurece
Solta-te leve e engrandece
O tempo não se compadece
Voa voa… levezinha
Foge da inércia daninha
Ostenta a força que é minha
Voa… vai apressada
Solta-te da corrente apertada
Não te prendas em mais nada
Voa voa… mais além
Não te detenhas por ninguém
os ingratos não agradecem
Voa voa… já segura
O teu esvoaçar perdura
Com ousadia e bravura
Voa voa … alma triste
Que longe, a alegria existe
Tu sabes, já a sentiste
Voa voa… alma minha
Agora não estás sozinha
Levas nas asas o meu alento
Esperança de renascimento
Não te deixes quebrantar
Confio no teu sôfrego voar
Desdenha o que te protrai
Esquece quem te trai
Quem te fere e extenua
Bate as asas e continua…
Voa … estamos tão perto
Não temas mais o incerto
Nem a vastidão do deserto
Porque a vida é pequenina
E o futuro sempre um enigma
Eternamente em aberto
Não esperes pois plo certo
*** Camila Carreira ***
Como analisar um poema
Este poema expressa um apelo à libertação emocional e ao reencontro com a força interior, simbolizado pela metáfora do voo. A imagem da alma que "voa" e "esvoaça" representa um desejo de liberdade, leveza e transcendência, em contraste com as dificuldades e amarras que prendem o eu lírico. A mensagem subjacente é de superação, autoconfiança e resistência, onde o tempo é impiedoso e a vida é passageira.
### Análise detalhada:
1. **Libertação e Força Interior**:
O poema inicia com um imperativo, "Voa, voa… esvoaça", que reforça a urgência em libertar-se de qualquer peso que a desgraça ou as circunstâncias possam impor. A repetição de "voa" ao longo do poema simboliza uma busca contínua pela leveza e pela elevação, uma superação da dor que oprime. "Não te enleies na desgraça" estabelece uma oposição direta entre a leveza almejada e o sofrimento que deve ser deixado para trás.
2. **Conflito com a Dificuldade e Superação**:
O eu lírico encoraja a alma a não se deixar aprisionar pelas correntes do sofrimento, da inércia e da traição. "Foge da inércia daninha" e "Solta-te da corrente apertada" expressam essa vontade de romper com o que limita a liberdade e o crescimento. A alma é vista como capaz de engrandecer e ostentar força, apesar dos desafios e ingratidões que enfrenta: "os ingratos não agradecem".
3. **Esperança e Renascimento**:
O poema não é apenas um grito de dor, mas também um cântico de esperança. "Agora não estás sozinha / Levas nas asas o meu alento" sugere que, apesar da solidão passada, existe uma renovação e uma força que sustenta o voo. A metáfora do voo continua a funcionar como um símbolo de renascimento e de reencontro consigo mesma. A alma, que outrora estava perdida, agora reencontra um propósito no voar.
4. **O Tempo e a Vida como Enigma**:
A incerteza sobre o futuro é mencionada, mas sem temor: "O futuro sempre um enigma / Eternamente em aberto". A vida é apresentada como breve e imprevisível, e o eu lírico incentiva a viver sem esperar "plo certo", aceitando o incerto como parte natural da existência. Isso reflete uma aceitação madura da complexidade da vida.