Poema de amor na eternidade

AMOR E ENTREGA

camila carreira, poemas de amor, rosas e cinzas, poesia portuguesa

Buscam-se prudentes, os sinais
Temendo amar demais
Escapando ao sofrer mais
Dúbios e ariscos, os olhares furtam-se
Esquivam-se aos segredos
Cedem aos medos
Mas exaustos e vencidos
Já sedentos exauridos
Os olhares trespassam, rasgam
Fitam-se... e desvendam enredos
Dissipam-se os medos
As almas penetram-se... fundo
Agora afoitas sem restrições,
Pulsadas pela força dos dois corações
Até ao centro do mundo
E quando menos se espera...
O amor nasce subrepticio
Desliza adentro das almas
Sacia vazios e fantasias
Narcotiza dores.
E cresce desenfreado
Sem discernir certo ou errado
E já o ansiamos prolongado
Apega-se nos diálogos
Expõe-se no brilho do olhar
Sente-se na felicidade a rondar
Um caminho inesperado
De planos, despojado
E os anseios que nos assaltam
Absolvemos como mera aflição.
a força impera e materializa-se
Apodera-se da carne e da alma
E eis que nos rendemos cativos
E já suplicamos por um futuro
Ou mesmo pela eternidade
Imploramos que nunca acabe...

 **** Camila Carreira ***

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Fernando Pessoa
(Depois do amor — na treva)

                (Depois do amor — na treva)
Eis-me enfim só, oh desejado horror
Eis-me enfim ante ti, oh Universo!
Eis-me aqui, lama e (...) mistério,
Excluído de ti, o eterno expulso
Que não pedia a vida. Eis-me aqui.

Pudesse eu pôr no seu desmedimento
O ódio (...)       e afrontar-vos
Com a expressão desse ódio, oh silêncios,
Oh noites ao pensar! eu morreria
De haver interpretado em tanto horror
Um mor horror que interpretar não pode
O que há-de ser palavra ou pensamento.
Eis-me aqui, oh abismo explicado!
Eis-me aqui o maior dos seres todos,
Quebrando aos pés do pensamento forte
A cruz de Cristo e as fórmulas mortais
[...]
Eis-me aqui!
O que há para mim senão vacuidade
No mundo (...), o que me destinastes?
O vazio? O silêncio? A escuridão?
Desses-me o instinto deles, não a plena
Torturação da luz.
s.d. Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.  - 107d.


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