Poema na busca do amor pepitas de luz

poetisa portuguesa, poesias de amor, versos e rimas amor, POEMA NA PRESSA DO IR


Sinto este frio negro, que me invade
Como a solidão alta da montanha
Um frio severo e sem piedade
Que adentro de mim, se entranha

Mergulho nessa tristeza tamanha
Que tão só a minha alma conhece
Uma dor perene que me acompanha
Que todos meus caminhos enegrece

Acossada pelas noites vãs e vazias
Irrompe em mim o ímpeto e o furor
Busco em veredas remotas e sombrías
Vestígios de luz em pepitas de amor

Vaga na escuridão prossigo desnorteada
Serás tu no breu a candeia que me alumia
Encalço a tua luz devota e desenfreada
E é na pressa do ir, que alcanço o quanto te queria.


**** Camila Carreira *** 


Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas ... 


Ricardo Reis

Sê lanterna, sê luz com vidro em torno,

Sê lanterna, sê luz com vidro em torno,
        Porém o calor guarda.
poetisa portuguesa, poesias de amor, versos e rimas amor,
Não poderão os ventos opressivos
        Apagar tua luz;
Nem teu calor, disperso, irá ser frio
        No inútil infinito.
3-3-1929  Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.  - 139.


Bernardo Soares
Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras...


Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras (...)
Mero perfil às vezes, mera atitude outras vezes, outras gesto lento apenas — és momentos, atitudes, espiritualizadas em minha(s).

Nenhum fascínio do sexo se subentende no meu sonhar-te, sob a tua veste vaga de madona dos silêncios interiores. Os teus seios não são dos que se pudesse pensar em beijar-se. O teu corpo é todo ele carne-alma, mas não é alma é corpo. A matéria da tua carne não é espiritual mas é espiritualidade (És a mulher anterior à Queda) […]

O meu horror às mulheres reais que têm sexo é a estrada por onde eu fui ao teu encontro. As da terra, que para serem (...) têm de suportar o peso movediço de um homem — quem as pode amar, que não se lhe desfolhe o amor na antevisão do prazer que serve o sexo […]? Quem pode respeitar a Esposa sem ter de pensar que ela é uma mulher noutra posição de cópula... Quem não se enoja de ter mãe por ter sido tão vulvar na sua origem, tão nojentamente parido? Que nojo de nós não punge a ideia da origem carnal da nossa alma — daquele inquieto (...) corpóreo de onde a nossa carne nasce e, por bela que seja, se desfeia de origem e se nos enoja de nata.

Os idealistas falsos da vida real fazem versos à Esposa, ajoelham à ideia de Mãe... O seu idealismo é uma veste que tapa, não é um sonho que crie.

Pura só tu, Senhora dos Sonhos, que eu posso conceber amante sem conceber mácula porque és irreal. A ti posso-te conceber mãe, adorando-o, porque nunca te manchaste nem do horror de seres fecundada, nem do horror de parires.

Como não te adorar se só tu és adorável? Como não te amar se só tu és digna do amor?

Quem sabe se sonhando-te eu não te crio, real noutra realidade; se não serás minha ali, num outro e puro mundo onde sem corpo táctil nos amemos, com outro jeito de abraços e outras atitudes essenciais de posse(s)? Quem sabe mesmo se não existias já e não te criei nem te vi apenas, com outra visão, interior e pura, num outro e perfeito mundo? Quem sabe se o meu sonhar-te não foi o encontrar-te simplesmente, se o meu amar-te não foi o pensar-em-ti, se o meu desprezo pela carne e o meu nojo pelo amor não foram a obscura ânsia com que, ignorando-te, te esperava, e a vaga aspiração com que, desconhecendo-te, te queria?

Não sei mesmo já [se] não te amei já, num vago onde cuja saudade este meu tédio perene talvez seja. Talvez sejas uma saudade minha, corpo de ausência, presença de Distância, fêmea talvez por outras razões que não as de sê-lo.

Posso pensar-te virgem e também mãe porque não és deste mundo. A criança que tens nos braços nunca foi mais nova para que houvesses de a sujar de a ter no ventre. Nunca foste outra do que és e como não seres virgem portanto? Posso amar-te e também adorar-te porque o meu amor não te possui e a minha adoração não te afasta.

Sê o Dia Eterno e que os meus poentes sejam raios do teu sol, possuídos em ti!
Sê o Crepúsculo Invisível e que as minhas ânsias e desassossegos sejam as tintas da tua indecisão, as sombras da tua incerteza.
Sê a Noite-Total, torna-te a Noite Única e que todo eu me perca e me esqueça em ti, e que os meus sonhos brilhem, estrelas, no teu corpo de distância e negação...
Seja eu as dobras do teu manto, as jóias da tua tiara, e o ouro outro dos anéis dos teus dedos.

Cinza na tua lareira, que importa que eu seja pó? Janela no teu quarto que importa que eu seja espaço? Hora (...) na tua clepsidra que importa que eu passe se por ser teu ficarei, que eu morra se por ser teu não morrer, que eu te perca se o perder-te é encontrar-te?

Realizadora dos absurdos, seguidora [?] de frases sem nexo. Que o teu silêncio me embale, que a tua (...) me adormeça, que o teu mero ser me acaricie e me amacie e me conforte, ó heráldica do Além, ó imperial de Ausência; Virgo-Mãe de todos os silêncios, Lareira das almas que têm frio, Anjo da guarda dos abandonados, Paisagem humana — irreal [?] de triste e eterna Perfeição.

s.d. Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.  - 256.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

poetisa portuguesa, poesias de amor,

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