AMAR É SINTONÍA
Amar é sintonia
Trocamos palavras
Como quem troca caricias
Delicias…
Palavras suaves e doces
Como nuvens aveludadas
A pairar no ar
Sinto paz e luz
Prazer da felicidade
Plácida, fruindo
A adorar ouvir-te e dizer-te
Ser entendida e entender-te
Beijar-te os lábios e interromper-te
Sorrir do nada só por ver-te
Sempre em sintonia
Como um dueto!
Ou uma inteira sinfonia!
Que sem cumplicidade,
Sem plenitude e afinidade
Jamais se comporia
Somos nós, as notas em sintonia
Cadenciadas…combinadas
Que ecoam em perfeita harmonia
E culminam numa excelsa melodia
**** CAMILA CARREIRA****
Momentos de cultura e curiosidades poéticas...
Sophia de Mello Breyner Andresen define a poesia e a forma como sente a escrita da poesia
«A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser.
Também não é tempo ou trabalho que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria.
Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar.
Pede-me uma intransigência sem lacuna.
Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura.
Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça.
Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.
Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas sim duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Geografia
em Obra Poética III, pg- 95-96
Fernando Pessoa encontra poesia em tudo
«Há poesia em tudo - na terra e no mar, nos lagos e nas margens dos rios. Há-a também na cidade - não a neguemos - facto evidente para mim enquanto aqui estou sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia na trepidação dos carros nas ruas; em cada movimento ínfimo, vulgar, ridículo, de um operário que, do outro lado da rua, pinta a tabuleta de um talho.»
Fernando Pessoa
(in Páginas íntimas e de Auto-Interpretação; Edições Ática; página 14)
Rainer Maria Rilke
«Utilize, para se exprimir, as coisas que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, os objectos das suas recordações. Se o quotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser bastante poeta para conseguir apropriar-se das suas riquezas. Para o criador nada é pobre, não há sítios pobres, indiferentes. Mesmo numa prisão cujas paredes abafassem todos os ruídos do mundo, não lhe restaria sempre a sua infância, essa preciosa, essa magnífica riqueza, esse tesouro de recordações?»
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