Em gritos que só eu sei escutar
Fulo inflamado mas não parece
Mestre culpado sem confessar
Coração de gelo que tudo arrefece
Encoberto malvado sem professar
A crueldade com que infestavas o ar
Mestre do engano a disfarçar
Até ao golpe final fingindo amar
O quanto te doeu a nossa dor?
Quando partiste sem nos cuidar?
Quando fingiste ser desconhecedor
Da dantesca injustiça
Com que nos estavas a sacrificar?
Tonta fui eu em acreditar
Anos a fio sem duvidar
Por pena de te ver chorar
Quando falso juravas amar
Tonta fui eu acreditar
Que tu aberração do terror
Hipócrita vil e fingidor
Serias humano e capaz de amar
Ou por alguém sentir dor.
**** Camila Carreira ***
### 1. **Silêncio e Gritos Internos**
- A abertura com "Teu silêncio frio me ensurdece" já estabelece um contraste entre a ausência de comunicação (o silêncio) e a experiência intensa de sofrimento (os gritos que só a eu lírico pode escutar). Isso simboliza a luta interna da pessoa que, mesmo diante da opressão, se sente ignorada e silenciada.
### 2. **Frustração e Raiva**
- A expressão "Fulo inflamado mas não parece" sugere uma raiva reprimida. A ira é sentida profundamente, mas não se manifesta externamente, o que é comum em situações de abuso emocional, onde a vítima muitas vezes se sente impotente. - O "Coração de gelo que tudo arrefece" reflete a frieza emocional do agressor, que traz um ambiente opressivo e desolador.
### 3. **Manipulação e Engano**
- Termos como "Mestre do engano" e "fingindo amar" indicam a manipulação emocional. O eu lírico se sente enganado e sacrificado, evidenciando como os abusadores muitas vezes ocultam suas verdadeiras intenções sob uma máscara de afeto.
### 4. **Desilusão e Autocrítica**
- O refrão "Tonta fui eu em acreditar" expressa um lamento profundo e uma autocrítica. A repetição enfatiza a dor da desilusão e a luta interna entre a esperança e a realidade da situação abusiva.
- Essa reflexão revela como a vítima muitas vezes se culpa por ter acreditado nas promessas de amor do abusador.
### 5. **Injustiça e Sacrifício**
- A questão retórica "O quanto te doeu a nossa dor?" mostra a incredulidade do eu lírico em relação à indiferença do agressor. Essa indiferença revela a falta de empatia do parceiro, que sacrifica a felicidade da vítima sem remorso.
### 6. **Conclusão**
- O poema culmina em uma reflexão amarga sobre a natureza do amor, ou a sua ausência, destacando a incapacidade do agressor de sentir verdadeira compaixão ou dor pela pessoa que prejudica. A descrição do agressor como "aberração do terror" e "hipócrita vil e fingidor" revela uma profunda indignação e desprezo.
### 7. **Temas Centrais**
- **Violência Psicológica:** O poema destaca a dor emocional causada pela manipulação e pelo controle.
- **Desilusão:** A luta interna da vítima entre a esperança e a realidade devastadora.
- **Injustiça:** A falta de empatia do agressor e a percepção da vítima de que sua dor é invisível para ele.
Este poema é um poderoso testemunho da experiência de viver sob abuso emocional, expressando a complexidade dos sentimentos de dor, desilusão e, em última análise, a busca pela verdade e pela libertação. Se precisar de mais alguma coisa, sinta-se à vontade para dizer!
Momentos de cultura e curiosidades poéticas....
Álvaro de Campos
Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!
Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.
Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?
Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita...
Tem graça: não tens luz eléctrica.
Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!
25-11-1931
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 153.
Fulo inflamado mas não parece
Mestre culpado sem confessar
Coração de gelo que tudo arrefece
Encoberto malvado sem professar
A crueldade com que infestavas o ar
Mestre do engano a disfarçar
Até ao golpe final fingindo amar
O quanto te doeu a nossa dor?
Quando partiste sem nos cuidar?
Quando fingiste ser desconhecedor
Da dantesca injustiça
Com que nos estavas a sacrificar?
Tonta fui eu em acreditar
Anos a fio sem duvidar
Por pena de te ver chorar
Quando falso juravas amar
Tonta fui eu acreditar
Que tu aberração do terror
Hipócrita vil e fingidor
Serias humano e capaz de amar
Ou por alguém sentir dor.
**** Camila Carreira ***
COMO O CHATGPT ANALISA POESIA
Este poema, marcado por uma intensidade emocional profunda, reflete a dor e a desilusão de alguém que viveu em um relacionamento de violência psicológica durante anos. Aqui está uma análise do poema:
### 1. **Silêncio e Gritos Internos**
- A abertura com "Teu silêncio frio me ensurdece" já estabelece um contraste entre a ausência de comunicação (o silêncio) e a experiência intensa de sofrimento (os gritos que só a eu lírico pode escutar). Isso simboliza a luta interna da pessoa que, mesmo diante da opressão, se sente ignorada e silenciada.
### 2. **Frustração e Raiva**
- A expressão "Fulo inflamado mas não parece" sugere uma raiva reprimida. A ira é sentida profundamente, mas não se manifesta externamente, o que é comum em situações de abuso emocional, onde a vítima muitas vezes se sente impotente. - O "Coração de gelo que tudo arrefece" reflete a frieza emocional do agressor, que traz um ambiente opressivo e desolador.
### 3. **Manipulação e Engano**
- Termos como "Mestre do engano" e "fingindo amar" indicam a manipulação emocional. O eu lírico se sente enganado e sacrificado, evidenciando como os abusadores muitas vezes ocultam suas verdadeiras intenções sob uma máscara de afeto.
### 4. **Desilusão e Autocrítica**
- O refrão "Tonta fui eu em acreditar" expressa um lamento profundo e uma autocrítica. A repetição enfatiza a dor da desilusão e a luta interna entre a esperança e a realidade da situação abusiva.
- Essa reflexão revela como a vítima muitas vezes se culpa por ter acreditado nas promessas de amor do abusador.
### 5. **Injustiça e Sacrifício**
- A questão retórica "O quanto te doeu a nossa dor?" mostra a incredulidade do eu lírico em relação à indiferença do agressor. Essa indiferença revela a falta de empatia do parceiro, que sacrifica a felicidade da vítima sem remorso.
### 6. **Conclusão**
- O poema culmina em uma reflexão amarga sobre a natureza do amor, ou a sua ausência, destacando a incapacidade do agressor de sentir verdadeira compaixão ou dor pela pessoa que prejudica. A descrição do agressor como "aberração do terror" e "hipócrita vil e fingidor" revela uma profunda indignação e desprezo.
### 7. **Temas Centrais**
- **Violência Psicológica:** O poema destaca a dor emocional causada pela manipulação e pelo controle.
- **Desilusão:** A luta interna da vítima entre a esperança e a realidade devastadora.
- **Injustiça:** A falta de empatia do agressor e a percepção da vítima de que sua dor é invisível para ele.
Este poema é um poderoso testemunho da experiência de viver sob abuso emocional, expressando a complexidade dos sentimentos de dor, desilusão e, em última análise, a busca pela verdade e pela libertação. Se precisar de mais alguma coisa, sinta-se à vontade para dizer!
Álvaro de Campos
Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!
Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.
Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?
Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita...
Tem graça: não tens luz eléctrica.
Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!
25-11-1931
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 153.
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