Paixão é inopinada conexão

Poema e frases de paixão em ebulição 

camila carreira, poemas portugueses, poetisa portuguesa
Paixão é complexidade e fusão
É apetecível contradição
Vibrante paz em ebulição
Assimetrias em turbilhão
Entrega sem preservação
Dádiva sem delação
Paixão é inopinada conexão
Simbiose em abnegação
Espero-te a todo o momento
Sê o sopro do meu vento,
O impulso do meu alento
Porque só vivo nesta ambição
Ser eu o vórtice do teu furacão 
Ou a lava do teu vulcão
Quero ser nuvem negra da tua trovoada
A luz amena da tua alvorada
O horizonte garrido do teu poente
O riacho fresco da tua nascente
Quero ser tudo que germine em ti
Tudo que finde em ti
Tudo que exista por ti…
Sem ti serei inacabada
Pairo nula no nada
Um vazio que não domino
Sem ti sou mera dor, lágrimas e desatino
Uma solidão doída, que abomino…
Uma jornada desprendida e sem destino

                           *** Camila Carreira****

Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas... 


Bernardo Soares
Às vezes, em sonhos distraídos, que me surgem das esquinas...


Às vezes, em sonhos distraídos, que me surgem das esquinas do pensamento e da emoção, visiono amores. Uma vez me encontro desenrolando um enredo de uma paixão correspondida por uma tuberculosa génio, que havia escrito o seu livro imortal na esperança de não sei quê, sempre, coitada, à janela da casa caiada. Outras vezes é a marquesa, que mora na quinta alta, que, quando me conheceu residente perto de ali onde eu nunca estaria, me atrai a si sem querer; o nosso amor desenvolve-se sem história, e há uma grande conclusão. Outras vezes ainda o romantismo deixa as tuberculosas e a aristocracia, e há uma grande simplicidade nos desejos sonhados: ela foi encontrada entre a vida como uma flor entre ervas altas, colhi-a para o meu lar limpo e lindo, e a minha vida, pelo menos até onde vai o sonho, dorme quietudes entre sinceridades, e tudo é afago.

Ah, que enredos complexos, em conveses de navios, em ilhas distantes, em hotéis universais, em viagens passageiras, me não encantam a distracção como vestidos expostos.

Mas, de repente, e com um regresso de pesadelo estatelado, desperto do meu romantismo sexual, e coro a sós comigo de fazer com a mente de dentro a mesma coisa que fazem todos os homens. E tenho, como timbre de fidalguia fraseada, a vantagem ridícula de contra. Sim, às vezes, sonho deste modo. Às vezes sou costureira masculina, e tenho príncipes, que são princesas, e muitas vezes são outra coisa, na imaginação inevitável.

E então acordado de todo, rio, quase alto, de me ver assim, como se me visse nu por baixo da nudez, como se me conhecesse esqueleto da alma, e uma alegria ponteaguda valsa nos meus devaneios. Que tristeza!
s.d.
Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.  - 210.
"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.


camila carreira, poemas portugueses, poetisa portuguesa 2018

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