MENTIRAS E DESAMOR
Percorri cristalina teu universo baçoSofri o vazio do amplo espaço
Senti o frio eterno no meu regaço
A insipidez do teu amor escasso
E incertezas no nosso abraço
Entrei sem vontade de ser
Saí sem vontade de te ter
Vivo sem vontade de viver
Lembro o que quero esquecer
E venço-me neste cansaço
Incerta no teu espaço baço
Limbo hediondo e sombrio
Assediam-me os espectros,
Circundam-me os fantasmas,
Assombram-me as memórias
Debato-me refuto regressos
Pensamentos foragidos possessos
Idas sádicas a castelos passados
Revivem horrores nunca olvidados
Do viver lato que me foi sonegado
Por psicopata tresloucado
**** Camila Carreira ****
Momentos de cultura e outras curiosidades poéticas
Fernando Pessoa
III - Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.
Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.
Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser; mas como, aqui, a porta aberta?
......
Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Roseacruz conhece e cala.
s. d.«No Túmulo de Christian Rosencreutz». Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 251.
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