Poema de saudade paixão

camila carreira, melhor poetisa, poemas de amor rosas e cinzas

PARTIDA  SEM RETORNO


Um rasgo de luz triste, na janela
Uma gota da chuva lenta a deslizar
Uma melancolia que cresce nela
No momento que te vê a apartar

No olhar penumbras obscuras
Denunciam a infinda tristeza
De quem já excedeu as agruras
E verteu mil lágrimas, indefesa

No sorriso abrem frescas alvuras
Eclipsam o desolado semblante
Vergado pelas sádicas torturas
Do passado estéril e meliante

Na vidraça fria a fronte repousa
Avassalada débil já em torpor
Mesmo doendo, ela ainda ousa
Deixar fluir a saudade do amor!

Entorpecida na delonga da solidão
Refém da esperança e do esperar
Implora ao débil traído coração…
- Não doas… o amor vai voltar

*** Camila Carreira ****

Momentos de cultura e curiosidades poéticas... 

Álvaro de Campos
A PARTIDA 

A PARTIDA

Agora que os dedos da Morte à roda da minha garganta
Sensivelmente começam a pressão definitiva...
E que tomo consciência exorbitando os meus olhos,
Olho p'ra trás de mim, reparo pelo passado fora
Vejo quem fui, e sobretudo quem não fui
Considero lucidamente o meu passado misto
E acho que houve um erro
Ou em eu viver ou em eu viver assim.

Será sempre que quando a Morte me entra no quarto
E fecha a porta a chave por dentro,
E a coisa é definitiva, inabalável,
Sem Cour de cassation para o meu destino findo,
Será sempre que, quando a meia-noite soa na vida
Uma exasperação de calma, uma lucidez indesejada
Acorda como uma coisa anterior à infância no meu partir?
Último arranco, extenuante clarão, de chama que a seguir se apaga
Frio esplendor do fogo de artifício antes da cinza completa,
Trovão máximo sobre as nossas cabeças, por onde
Se sabe que a trovoada, por estar [...], decresceu.

Viro-me para o passado.
Sinto-me ferir na carne.
Olho com essa espécie de alegria da lucidez completa
Para a falência instintiva que houve na minha vida
Vão apagar o último candeeiro
Na rua amanhecente de minha Alma!
Sinal de [..]
O último candeeiro que apagam!
Mas antes que eu veja a verdade, pressinto-a
Antes que a conheça, amo-a.
Viro-me para trás, para o passado, não [visiono? ];
Olho e o passado é uma espécie de futuro para mim.

Mestre, Alberto Caeiro, que eu conheci no princípio
E a quem depois abandonei como um espantalho reles,
Hoje reconheço o erro, e choro dentro de mim,
Choro com a alegria de ver a lucidez com que choro
E embandeiro em arco à minha morte e à minha falência sem fim,
Embandeiro em arco a descobri-la, só a saber quem ela é.
Ergo-me em fim das almofadas quase cómodas
E volto ao meu remorso sadio.
s.d.
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.  - 27a.


camila carreira, melhor poetisa, poemas de amor rosas e cinzas


camila carreira, melhor poetisa, poemas de amor rosas e cinzas

camila carreira, melhor poetisa, poemas de amor rosas e cinzas
 

Sem comentários:

Enviar um comentário