(Poesia de amor e desilusão)
Minha alma ferida errática foi-te procurarComo gaivota exausta a querer repousar
Serias pousio e refúgio para me sarar
Asilo sano e gentil, feliz por me abrigar
Nos teus abraços largos senti-me sanar
No teu peito aprisionada quis-me ficar
Escondida na noite desejando olvidar
O dia que vinha óbvio só pra me torturar
Porque basta um sopro e esvoaça o sonho
O príncipe era afinal um vil sapo medonho
Viver não é vital é só pesadelo enfadonho
Sinfonia triste amarga que já não componho
****Camila Carreira ***
Momentos de cultura e curiosidades poéticas...
A desilusão amorosa e mesmo a decepção com a vida e a forma como decorre a vida é o tema deste poema que aqui partilho. Por vezes no desespero da fadiga que nos impele para repousar, das tormentas e dos tormentos, pousamos em busca do abrigo de um amor, de paz que nos possa tranquilizar e deixar repousar das buscas incessantes por algo que dê sentido à vida. Por algo que muitas vezes nem sabemos identificar. Paz... companhia? Um abraço amigo?
Mas os sonhos são isso mesmo só sonhos, que se desmoronam com o simples chegar do dia, com o raiar da luz crua e fria da realidade.
E por vezes chegamos a um ponto que já não existe animo para embarcar em sonhos, são tantos e navegam tantas vezes, por mares tumultuosos e atracam quase sempre nos portos errados.
E de todas as viagens, são demasiadas as que apenas nos trazem à memória sofrimento e decepção. Tentei recordar um poema de Fernando Pessoa que deixasse transparecer alguns desses sentimentos de desabrigo e desolação e decidi partilha-lo aqui juntamente com o meu. Frases de amor e desilusão.
Fernando Pessoa
Ah, bate levemente, mais levemente!Ah, bate leve, mais levemente!
Eu julguei morto meu coração
Na hora passa, como demente
Ophelia indo para a corrente,
Não sei que incerta minha emoção,
Julguei-te morto, coração triste,
Que nada fazes salvo doer.
Julguei-te morto, e ainda existe
Na tua cinza algum fogo e resiste
Em ti ainda o mal de sofrer.
……
Coração triste, vibras incerto,
Gemes na tua desolação.
Que oásis falso no teu deserto
Não foi esta vaga miragem perto
Da tua inútil consolação!
……
Recolhe, monge definitivo
Ao peito aonde te abrigas
(…)…
Sê firme, crê que ninguém deseja
O teu asilo ou o teu abrigo.
Em teu deserto nada viceja.
Quem queres tu que te queira...
Coração triste, vive contigo.
……
Abdica e vive de não viver!
……
Pobre criança que queria ter
Em toda a vida canções de amor (…)
26-7-1917 -Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. - 32.
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