Imagem: christian schloe |
Poesía de amores perdidos jazidos
Ao ritmo do vento que sopra
Tamborilando em pétalas roxas
Aromatizadas de lírios
Sinto inebriados delírios,
Pelos vendavais trazidos,
Amores perdidos, jazidos
Almas soltas no jardim
Procuram sempre por mim
Onde estou, que nem eu sei
Pois que nunca me encontrei
Deslizo intangível nos prados
Como brisa perfumada
Pelo vento arrastada
Qual pétala alada…
Incorpórea… dissimulada.
Não queiram saber de mim
Sou aroma... sou mera brisa
Sou sem princípio nem fim
Ninguém saberá de mim.
Porque eu existo assim
Pairo indefinidamente
indelével e sem destino
Desgarrada e sem ânimo
Volátil, num qualquer jardim
Sem que ninguém, dê por mim...
*** Camila Carreira ****
Momentos de cultura...
Álvaro de Campos
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi!
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi!
Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser,
Que o ser é o mesmo em ti e em mim.
Muito é ausência, nada é perda!
Todos os mortos — gente, dias, desejos,
Amores, ódios, dores, alegrias —
Todos estão apenas em outro continente...
Chegará a vez de eu partir e ir vê-los.
De se reunir a família e os amantes e os amigos
Em abstracto, em real, em perfeito
Em definitivo e divino.
Reunir-me-ei em vida e morte
Aos sonhos que não realizei
Darei os beijos nunca dados,
Receberei os sorrisos, que me negaram,
Terei em forma de alegria as dores que tive...
Ah, comandante, quanto tarda ainda
A partida do transatlântico?
Faz tocar a banda de bordo —
Músicas alegres, banais, humanas, como a vida —
Faz partir, que eu quero partir...
Som do erguer do ferro, meu estertor
Quando é que por fim eu te ouvirei?
Fremir do costado pela pulsação das máquinas —
Meu coração no bater final convulso —,
[Toque de vigias, suspiros do porto?]
(...)
Lenços a acenarem-me do cais em que ficam...
Até mais tarde, até quando vierdes, até sempre!
Até o eterno em alegre Agora,
Até o (...)
s.d. -“A Partida”. Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.
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