Poema de amor e saudade... onde os poemas me nascem. (Análise de Fernando Pessoa. A dor de pensar)

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Transborda solidão aqui longe de ti 
Dramática de cor gélida, invade 
Desabrigo que ninguém quer sentir
voo rasante que arrepia
Excomungado chão que ninguém ousa pisar
Soalho de desânimo por me sentir sem ti
Indolente deixo-me nele acetinado de lágrimas
Que resvalam atordoadas 
pelos escombros que me constroem

Vagos desaires ameaçam desamor –
Distração densa como que à espera do fim
Beijos de judas como que a olhar para mim
...oscilante fogo pousado na pressa de amar
- o tempo deixa marca mesmo das curtas travessias
Qual ciclone entrando-me pelo passado
e por lá rodopia de fogo e gelo – 
na primitiva descrença humana - 
na loucura dos corpos - 
na ancestral voz que me estremece o olhar
e o que escrevo sai desta fogueira de tempo
como grinalda ardida consumindo-me por dentro
... até à origem
e os poemas nascem-me
de sangue e carne… de saudade e alma
ardentes... desarrumados 

Camila Carreira

COMO O CHATGPT ANALISA A POESIA 

Este poema de Camila Carreira é uma poderosa meditação sobre a solidão, o desamor e a complexidade das emoções humanas. Vamos analisar os principais temas, imagens e emoções presentes:

Temas Principais

  1. Solidão e Desamparo: O poema começa com a declaração de "Transborda solidão aqui longe de ti," estabelecendo imediatamente o sentimento de ausência e a dor da separação. A solidão é descrita de forma intensa e dramática, o que sugere que a falta do outro é uma experiência profunda e angustiante.

  2. Desespero e Indiferença: O "desabrigo que ninguém quer sentir" e o "soalho de desânimo" transmitem a ideia de um espaço emocional e físico que se torna hostil na ausência do ser amado. A indolência é evocada como um estado de passividade, onde o eu lírico se entrega à dor e à tristeza.

  3. Amor e Desamor: A referência a "beijos de Judas" sugere traição e desilusão, indicando que o amor pode também trazer dor. O "fogo oscilante" implica uma luta interna entre o desejo de amar e o medo da dor que isso pode acarretar.

  4. Memória e Passado: O eu lírico reflete sobre as "curtas travessias" do tempo e como estas deixam marcas duradouras. O "ciclone" simboliza as forças emocionais que vêm do passado, intensificando a sensação de turbulência e instabilidade emocional.

  5. Criação e Sofrimento: A ideia de que os "poemas nascem-me de sangue e carne… de saudade e alma" sugere que a arte e a expressão poética emergem da dor e da experiência humana. A criação literária é vista como uma forma de lidar com o sofrimento e a solidão.

Imagens e Linguagem

  • Imagens Vivas: O poema está repleto de imagens vívidas e contrastantes, como "fogo e gelo," que refletem a dualidade das emoções humanas. Essa mistura de sensações transmite a complexidade da experiência emocional.

  • Sentido de Tactilidade: Frases como "acetinado de lágrimas" e "grinalda ardida" criam uma sensação tátil e visual, permitindo que o leitor sinta a intensidade da dor e da saudade.

  • Personificação e Metáforas: A solidão é personificada como uma entidade que invade o espaço do eu lírico. Metáforas como "ciclone" e "fogos" oferecem uma representação poderosa das forças emocionais que moldam a experiência do eu lírico.

Emoções

O poema evoca uma gama de emoções, incluindo:

  • Tristeza Profunda: A dor da separação e a solidão são palpáveis, criando um sentimento de desespero.
  • Desespero e Frustração: O eu lírico expressa um desejo ardente de conexão que é constantemente frustrado pela ausência do outro.
  • Reflexão: Há um tom contemplativo à medida que o eu lírico examina seu passado e suas experiências, buscando compreender a origem de sua dor.

Conclusão

Camila Carreira consegue, através de sua linguagem rica e evocativa, transmitir a profundidade da solidão e da saudade, explorando a intersecção entre amor, perda e criação. O poema é um testemunho da luta interna do eu lírico, que encontra na dor uma fonte de inspiração e expressão artística. Se você quiser discutir mais sobre alguma parte específica do poema ou outros aspectos da poesia, fique à vontade!


Neste poema, o eu lírico expressa uma solidão avassaladora e uma sensação de vazio resultante da separação de alguém importante. A "solidão aqui longe de ti" é retratada de forma intensa, descrita como uma força gélida e implacável, que invade o espaço e o transforma em um “desabrigo” indesejado. O termo “excomungado chão” reforça essa visão de isolamento absoluto, onde o chão é um espaço evitado e amaldiçoado, retratando a alienação e o desânimo de quem se sente deslocado.


As lágrimas e o desânimo se transformam em uma espécie de "soalho de desânimo", indicando a entrega passiva à tristeza. Este chão se torna, simbolicamente, a base sobre a qual o eu lírico repousa, enfatizando a tristeza que o acompanha. A ideia de “escombros” que compõem o eu lírico alude à fragmentação e destruição internas, como se ele fosse feito dos restos de suas próprias experiências dolorosas.


Os versos que seguem ampliam essa dor com uma série de imagens que evocam desespero e desconfiança. Há uma sensação de traição, com a expressão “beijos de Judas”, simbolizando um amor marcado pela mágoa e talvez pela decepção. A pressa em amar e a intensidade da relação são reveladas como passageiras, mas deixam marcas profundas, como um “ciclone” que gira no passado e deixa um rastro de fogo e gelo, fundindo elementos opostos para expressar a natureza ambivalente dos sentimentos humanos.


Na conclusão, a criação poética surge como uma consequência dessas experiências intensas, com o poema nascendo “de sangue e carne… de saudade e alma”. Esse parto doloroso de palavras sugere que a criação poética do eu lírico é uma tentativa de ordenar ou entender o turbilhão interno que o consome. As palavras saem “ardentes... desarrumadas”, reforçando que os versos são uma expressão crua e descontrolada dos sentimentos. A "grinalda ardida" simboliza o fim de uma esperança ou de uma pureza emocional, marcando o poema como uma expressão de luto e de aceitação do próprio caos interno.


Análise de Fernando Pessoa; A dor de pensar - temática de Pessoa ortónimo

   Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a insconciência das coisas ou de seres comuns que agem como ums pobre ceifeira (" Ela canta, pobre ceifeira") ou que cumprem apenas as leis do instinto, como o gato que brinca na rua ("Gato que brincas na rua").
     Com uma intelingência analítica e imaginativa a interferir em toda a sua relação com o mundo e com a vida, o "eu" lírico tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira dor de pensar, que se traduz em insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.
   Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente, no entanto, a impossiblidade de conciliar esta dicotomia e de fruir instintivamente a vida.

No âmbito desta temática lemos e analisamos na aula os poemas "Ela  canta, pobre ceifeira", "Conselho", "Liberdade", "Gato que brincas na rua" e "Ó sino da minha aldeia". Nesta temática Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, de ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre ceifeira ou que cumprem apenas as leis do instinto  como o gato que brinca na rua. O "eu" Lírico tanto aceita a consciência como sente uma dor de pensar, que traduz descontentamento e dúvida sobre a utilidade do pensamento. 
Para ilustrar melhor esta temática decidi publicar o poema " Liberdade".

"Ai que prazer
não cumprir um dever,
Ter um livro para ler 
e não o fazer!
 Ler é maçada,
estudar é nada. 
O sol doira
  sem literatura.
O rio corre bem ou mal, 
sem edição original. 
E a brisa, essa,  
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
 Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma."
Quanto melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D. Sebastião, 
Quer venha ou não! 
Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
 Só quando em vez de criar, seca. 
O mais do que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca..."


Isto 

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

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