Poesía que domina a alma do poeta - Fernando Pessoa - Lenta e quieta a sombra vasta

camila carreira, blog de poesia de amor, rosas e cinzas, poetisa portuguesaPoema devasso invades-me a alma plo regaço
Capturas meu espírito já débil de cansaço
E soltas-te em palavras saciando o meu espaço
Renascendo em melodias lavradas em compasso

É vão resistir aos sentidos que em mim despertas
Pois é nas almas tristes, secretamente flageladas
Que as palavras irrompem, como feridas abertas
E soltam emoções, em torrentes desgovernadas
Como nessas noites negras de chuvas, desnaturadas
Alvoroços da alma desprendidos em enxurradas

Crispo-me quero encarcerar os meus demónios
Que líquidos fluem sem nada os poder conter
Alastram-se no labirinto dos meus neurónios
Sinto-os cáusticos dentro de mim a corroer

Poema é logro seja ele doce ou amargurado
É mero cicerone amplificador dor
Instrumento e servo de demónio dominador
Que me expõe e consome, maldito esconjurado

Habitam-me espectros cravados e dominantes
Que gelam o sol mesmo em universos distantes
Rendida escrevo-os exibindo a ousadia que me resta
Espreito escapo e faço da poesia a minha breve festa

**** Camila Carreira ****

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### Análise do Poema


Este poema de Camila Carreira, intitulado "Poema devasso," é uma exploração profunda da relação entre a escrita, a dor emocional e a luta interna do eu lírico. Através de uma linguagem evocativa e rica em imagens, a autora aborda temas como a criatividade, a solidão e a confrontação com os demónios internos.

### Temas Principais

1. **Invasão da Alma e Conexão com a Poesia:**
   O poema começa com a ideia de que a poesia é uma força invasiva que penetra na alma do eu lírico: "Poema devasso invades-me a alma." Esta invasão sugere uma entrega à experiência poética, onde o eu se sente vulnerável, mas também revitalizado. As palavras se tornam um meio de renascimento e libertação.

2. **A Dor e a Tristeza:**
   A expressão "nas almas tristes, secretamente flageladas" destaca a conexão entre a dor emocional e a criação poética. A poesia serve como uma forma de expressão para sentimentos que estão frequentemente ocultos ou reprimidos. As "feridas abertas" simbolizam a vulnerabilidade e a honestidade da experiência humana, sugerindo que a arte pode emergir da dor.

3. **Demónios Internos:**
   O eu lírico luta contra os "demónios" que habitam sua mente, representando medos, ansiedades ou traumas. A imagem de "encarcerar os meus demónios" revela um desejo de controlar ou conter essas forças internas. A luta contra esses demónios é contínua, e a poesia se torna uma forma de enfrentá-los.

4. **Dualidade da Poesia:**
   O poema apresenta uma reflexão sobre a natureza da poesia, que é descrita como "logro" e um "instrumento e servo de demónio dominador." Isso sugere que, embora a poesia possa ser uma forma de libertação, também pode ser uma fonte de dor e consumo emocional. A ambivalência da poesia é um tema central, destacando seu poder tanto para curar quanto para ferir.

5. **Expressão e Libertação:**
   Ao escrever, o eu lírico se entrega à sua dor, e a escrita torna-se uma "breve festa," uma celebração temporária da ousadia que ainda persiste. A poesia oferece um espaço para a expressão genuína, mesmo que seja em meio à dor.

### Imagens e Linguagem

- **Imagens Visuais e Sensoriais:** O poema utiliza imagens vívidas, como "noites negras de chuvas" e "enxurradas," para evocar a intensidade das emoções do eu lírico. Essas imagens ajudam a criar uma atmosfera de turbulência e profundidade emocional.

- **Metáforas e Comparações:** A metáfora do "poema" como um "cicerone amplificador dor" sugere que a poesia não apenas expressa a dor, mas também a amplifica, trazendo à tona sentimentos que podem estar escondidos. Essa dualidade é crucial para entender a relação do eu lírico com a arte.

- **Estrutura e Ritmo:** O uso de rimas e um compasso melódico contribui para a musicalidade do poema, refletindo a ideia de que a poesia tem uma cadência que ressoa com as emoções expressas.

### Emoções

O poema evoca uma gama de emoções, incluindo:
- **Tristeza e Desespero:** A tristeza é uma constante, com o eu lírico lidando com a dor emocional e a luta interna.
- **Vulnerabilidade:** A entrega à poesia como forma de expressão revela uma vulnerabilidade que é tanto corajosa quanto dolorosa.
- **Ousadia e Libertação:** Apesar da dor, há um sentido de ousadia e celebração na criação poética, como se a escrita fosse uma forma de resistência.

### Conclusão

"Poema devasso" de Camila Carreira é uma reflexão poderosa sobre a relação entre a dor, a criatividade e a luta interna. Através de imagens vívidas e uma linguagem emotiva, o eu lírico explora a complexidade da experiência humana e a dualidade da poesia como um meio de expressão e um agente de dor. O poema ressoa com aqueles que enfrentam suas próprias batalhas internas, oferecendo uma visão profunda da vulnerabilidade e da força que podem coexistir na busca pela verdade emocional.


Fernando Pessoa
Lenta e quieta a sombra vasta

Lenta e quieta a sombra vasta
Cobre o que vejo menos já.
Pouco somos, pouco nos basta.
O mundo tira o que nos dá.

Que nos contente o pouco que há.
A noite, vindo corno nada,
Lembra-me quem deixei de ser,
A curva anónima da estrada

Faz-me lembrar, faz-me esquecer,
Faz-me ter pena e ter de a ter.
Ó largos campos já cinzentos
Na noite, para além de mim,

Vou amanhã meus pensamentos
Enterrar onde estais assim.
Vou ter aí sossego e fim.
Poesia! Nada! A hora desce

Sem qualidade ou emoção.
Meu coração o que é que esquece?
Se é o que eu sinto que foi vão,
Porque me dói o coração?
17-11-1930 Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).  - 125.


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